domingo, 19 de junho de 2016

Adriano Nunes: "Pelas frestas do átimo mais denso"

"Pelas frestas do átimo mais denso"

Depois dos laços audaciosos
De tuas pernas, pouco me importo
Com os rumos do amor.
Cantante é o calor dos abraços
Dessas metáforas desmedidas
Que nos acontecem, de manhã,
Na cama. Não são só chamas.
Não são só atritos epidérmicos
E suores perfumados,
Hálitos sem qualquer norte.
Por que a vida se veste de ausência
Quando o desejo ferve
No desnudo corpo? Que sobra
Dos olhares, dos pelos eriçados, das ereções
Que erram, que se dispersam
Pelas frestas do átimo mais denso,
Aquele em que, em mim, se amalgama,
Adentro, fundo, forte, sem pressa,
Beijando-me cegamente
Como se o porvir fosse desnecessário?
Não será apenas mais um ato
Nesse espetáculo de proezas espertas?
Ah, como a memória nos esfacela!

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