"Arish e a sua engenhosa invenção"
Chove muito forte sobre a tribo de Arish.
As crianças estão assustadas. Os bichos
Também. Ninguém entende por que isso.
Arish tem cento e dois anos. É o mais antigo
De todos. É o chefe de sua pequena tribo.
Ele não imagina que o seu clã no porvir
Será um vasto império, com teatros e ritos
Sagrados, com promessas de prêmios íntimos.
Chove muito forte. Os bichos gritam, gritam.
Todos querem saber o porquê disso.
Quando querem saber de algo visitam
A velha e estranha cabana de Arish.
É ele quem cria o mundo dos seus, mitos,
Lendas, verdades, ilusões, sonhos, mentiras.
Ele não sabe que tudo que ele inventa brilha
Nos olhos dos seus dia após dia.
Hoje Arish vai explicar o surgir
Da forte chuva e do vento frio.
A sua grande invenção, ele imagina,
Só será no dia de sua morte dita.
Quase agora a todos os homens pediu
Que matassem dois carneiros, disse,
Depois, que retirassem as vísceras,
Que eles chamam de bofes e tripas,
Que as pusessem num caldeira de zinco,
Com gordura de camelos e água do rio
Tatzarjid, que fervesse tudo, que, à vista
Das crianças fervesse tudo, de nítida
Forma, à vista das crianças pequeninas.
Por que Arish à vista delas isso fazia?
Por acaso ou malabarismo mágico, digo,
Feitiço, crença ou algo desconhecido,
O certo é que a chuva neste instante finda.
As crianças brincam em volta das cinzas,
Na lama, elas no que veem acreditam.
Arish irá morrer logo logo, daqui
A pouco, rodeado dos seus, no pio
Da noite, rodeado de suas invenções míticas,
De seus pesadelos e astúcias, da vida
Que deu a todos. Mas, antes da despedida,
Dirá, som por som, a todos os seus filhos
Como se formou o mundo, o infinito.
Quase nada diz. Quase, por um triz!
Ele não sabe como dizer, insiste, insiste,
Sabe que é o mais velho de todos, triste
Parece, mas não está. E, súbito, diz
Que o infinito e tudo que há foi gerido
Por um furor fortíssimo, o amor, é isso.
Arish não sabia que um dia poderia
Criar um poderoso império, um circo
Policromático de solidões e sentidos.
Ele não sabia que outros nomes dariam
À sua engenhosa invenção, ao seu mito,
Que iriam moldá-lo, desconstruí-lo.
As crianças estão assustadas. Os bichos
Também. Ninguém entende por que isso.
Arish tem cento e dois anos. É o mais antigo
De todos. É o chefe de sua pequena tribo.
Ele não imagina que o seu clã no porvir
Será um vasto império, com teatros e ritos
Sagrados, com promessas de prêmios íntimos.
Chove muito forte. Os bichos gritam, gritam.
Todos querem saber o porquê disso.
Quando querem saber de algo visitam
A velha e estranha cabana de Arish.
É ele quem cria o mundo dos seus, mitos,
Lendas, verdades, ilusões, sonhos, mentiras.
Ele não sabe que tudo que ele inventa brilha
Nos olhos dos seus dia após dia.
Hoje Arish vai explicar o surgir
Da forte chuva e do vento frio.
A sua grande invenção, ele imagina,
Só será no dia de sua morte dita.
Quase agora a todos os homens pediu
Que matassem dois carneiros, disse,
Depois, que retirassem as vísceras,
Que eles chamam de bofes e tripas,
Que as pusessem num caldeira de zinco,
Com gordura de camelos e água do rio
Tatzarjid, que fervesse tudo, que, à vista
Das crianças fervesse tudo, de nítida
Forma, à vista das crianças pequeninas.
Por que Arish à vista delas isso fazia?
Por acaso ou malabarismo mágico, digo,
Feitiço, crença ou algo desconhecido,
O certo é que a chuva neste instante finda.
As crianças brincam em volta das cinzas,
Na lama, elas no que veem acreditam.
Arish irá morrer logo logo, daqui
A pouco, rodeado dos seus, no pio
Da noite, rodeado de suas invenções míticas,
De seus pesadelos e astúcias, da vida
Que deu a todos. Mas, antes da despedida,
Dirá, som por som, a todos os seus filhos
Como se formou o mundo, o infinito.
Quase nada diz. Quase, por um triz!
Ele não sabe como dizer, insiste, insiste,
Sabe que é o mais velho de todos, triste
Parece, mas não está. E, súbito, diz
Que o infinito e tudo que há foi gerido
Por um furor fortíssimo, o amor, é isso.
Arish não sabia que um dia poderia
Criar um poderoso império, um circo
Policromático de solidões e sentidos.
Ele não sabia que outros nomes dariam
À sua engenhosa invenção, ao seu mito,
Que iriam moldá-lo, desconstruí-lo.