quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Adriano Nunes: "Da superficialidade"

"Da superficialidade"


Tão pouco se sabia, e agora
É que quase nada se sabe.
Batem no peito que já Nietzsche
Leram, mas, Lordes, acreditem,
Eles só sabem umas frases
Decoradas, em tradução
Precária. Não Leram Aurora!
De Shakespeare, dizem por aí
Tantas tolices. Vivem certos
De que da Odisseia de Homero
A ida tira pra Pasárgada.
Dos dicionários digitais
Aos tradutores virtuais
Evocam a sabedoria
Dos conhecimentos de massa.
Até o poema dos tigres
Do Lau juram ser da Clarice
Lispector. São doutos espertos.
Camisas sob sol no varal,
Morcegos em aquários, ratos
Pendurados pelo pé, rabo
São tidos como artes plásticas.
Decoram artigos de leis,
Sentem-se os juristas da vez.
Desdizem de Dice, e persistem
Em clamar que é um erro de
Português - que se escreve 'disse'.
Espalham amar demais Gal,
Mas sequer ouviram Fatal.
Tudo é copia, cola, passa
Adiante: a mercadoria
Da ignota ignorância seria
A grã passagem para a Ítaca.
Macondo deve estar além...
E gritam: quem vai e quem fica?
E indagam perplexos: de trem?


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