quarta-feira, 29 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Balada contra balas" - para os professores do Paraná

"Balada contra balas" - para os professores do Paraná

Bala contra a aula.
Bala contra o ânimo.
Bala contra a arte.
Gás contra o livro.
Gás contra o lápis.
Gás contra o Lácio.
Bomba contra o signo.
Bomba contra a soma.
Bomba contra o sonho.
Gás contra o giz.
Gás contra o quadro.
Gás contra a letra.
Bala contra a arte
Bala contra o átimo.
Bala contra a aula.
Do signo bala de borracha
Só a borracha que apaga
Do signo bala de borracha
Só a bala adocicada
Do signo bomba de efeito moral
Só a redondilha maior
Do signo bomba de efeito moral
A moral só
Do signo gás lacrimogêneo
Só o gás da vida, o oxigênio
Do signo lacrimogêneo gás
Não queríamos lágrimas, mas

Violentamente as derramemos.

terça-feira, 28 de abril de 2015

César Vallejo: "Rosa blanca" (Tradução de Adriano Nunes)

"Rosa branca" (Tradução de Adriano Nunes)



Sinto-me bem. Agora
brilha um estoico gelo
em mim.
dá-me riso esta soga 
rubi
que rechina em meu corpo.
Soga sem fim,
como uma
voluta
descendente
de
mal...
Soga sanguínea e surda
formada de
mil facas em puntal.
Que vá assim, trançando
seus rolos de crepom;
e que ate o gato trêmulo
de medo ao ninho gelado,
ao último fogão.
Eu agora estou sereno,
com luz.
E murcho em meu Pacífico
um náufrago ataúde.



César Vallejo: "Rosa blanca"


Me siento bien. Ahora
brilla un estoico hielo
en mí.
Me da risa esta soga
rubí
que rechina en mi cuerpo.
Soga sin fin,
como una
voluta
descendente
de
mal...
Soga sanguínea y zurda
formada de
mil dagas en puntal.
Que vaya así, trenzando
sus rollos de crespón;
y que ate el gato trémulo
del Miedo al nido helado,
al último fogón.
Yo ahora estoy sereno,
con luz.
Y maya en mi Pacífico
un náufrago ataúd.


VALLEJO, César. "Truenos". In: _____. Obra Poética Completa. Lima: Francisco Moncloa Editores, 1968, p. 108.

domingo, 26 de abril de 2015

William Carlos Williams: "The Thinker" (Tradução de Adriano Nunes)

"O pensador" (Tradução de Adriano Nunes)


Os róseos chinelos novos da minha esposa
têm alegres pompons.
Não há uma mancha ou uma marca
nas pontas de cetim ou nos lados.
Toda noite eles juntos descansam
na beira de sua cama.
Tremendo os avisto
e sorrio, pela manhã.
Mais tarde os vejo
descendo a escada,
apressados através das portas
e da mesa em volta,
movendo-se tesos 
com um sacolejo dos alegres pompons!
E tenho com eles uma conversa
em minha mente secreta
de pura felicidade.


William Carlos Williams: "The Thinker"


My wife's new pink slippers
have gay pompons.
There is not a spot or a stain
on their satin toes or their sides.
All night they lie together
under her bed's edge.
Shivering I catch sight of them
and smile, in the morning.
Later I watch them
descending the stair,
hurrying through the doors
and round the table,
moving stiffly
with a shake of their gay pompons!
And I talk to them
in my secret mind
out of pure happiness.


WILLIAMS, William Carlos. "Sour Grapes". In:_____. The collected Poems of William Carlos Williams - Vol. I. Edited by Christopher MacGowan. New York: New Directions, 2001, p. 167.

Adriano Nunes: "Das vertigens do amor que me consolam"

"Das vertigens do amor que me consolam"


Tanto sonho, e a manhã cinza se molda.
Sons e signos em mim abrem-me a porta
De métricos desejos - basta o ouro
Das palavras mais íntimas, o outro
De cada instante meu. Lança-se o corpo
Além das áleas vãs, e então me movo
À música de Pã, à áurea aurora
Das vertigens do amor que me consolam.
Ó gasto coração, por que te soltas
Das cordas do sentir? E por que agora?
Que queres como sol, de qualquer modo?
Tanto sonho, e a manhã tensa se mostra.
Mas proponho ao pensar a vida nova
Para que cesse a dor que vem dos olhos.

sábado, 25 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Do instante que finda"

"Do instante que finda"


Aqui estás só -
Alerta-me o verso.
As rimas? São riscos
E não mais que isso.
O ritmo? Ser pode
O insólito norte.
Aqui estás solto -
Confessa meu olho
Enquanto procura
Pela arquitetura
Insigne, a que erga
Um brinde à beleza.
Eis que o alumbramento
Dita as regras rígidas
Do instante que finda.
Aqui estás todo -
Exala o oximoro
Em que estou ardendo.
Memória e remendos...
E bica o meu íntimo
O corvo do instinto,
Com afinco e astúcia.
Que tática esdrúxula
Sentir quem me penso!

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Poderia tanto!"

"Poderia tanto!"


Pudesse o poema
Proclamar apenas
O quanto te amo,
Poderia tanto!
Porém meu poema,
Feito à alegre pena,
Não diz mesmo o tanto
De quanto te amo.

Rasgá-lo, adianta?
O amor na garganta
Preso é mais que medo.
Que ao peito concedo
Para que o poema
Do lápis escape
E, com bela arte,
Para a folha salte?

Refazê-lo, parte
Por parte, sem técnica
Supérflua, bem resta.
De ti preenchê-lo,
Pode ser engano?
Poderia tanto
Se dissesse o canto
O quanto te amo!

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Desde que sós partimos"

"Desde que sós partimos"



Entre imprevistas horas, 
Essa que já não passa.
Entre as nômades nódoas,
Essa que muito a alma
Marca e esse silêncio 
De silício aderido
Ao sonho de cingir
O só-ser, na palavra
Mar - quânticos instintos,
Enquanto mais se despem 
De si os pensamentos,
Como se nós quiséssemos 
A distinta metade
Do que não há, a outra
Fatia da alegria
Ou do desassossego
Que nos modelam dia 
A dia, como se 
Jamais houvesse mesmo o
Que abraçar com o olhar 
De passagem, já livre.

Por consorte a certeza
Tivemos nas intrépidas
Tentativas de achar
Uma trilha pra Ítaca,
A astúcia de ficar 
Em algum ponto entre 
Pasárgada e Macondo, 
O que decerto acalma,
Mas ao peito não basta.
Perdemo-nos sob flertes
Do cansaço e do caos
Que engendramos no âmago. 
Agora, o grã segredo 
Sequer nos quer. Andamos 
Lado a lado qual cães, 
Sem saber das delícias
Do onírico horizonte
Da língua. Passeamos
Repelidos de nós, 
Como se fosse outro 
Tempo em nós permitido,

Pra cantarmos a ode 
Da nossa irreverência,
Pra aceitarmo-nos prontos,
Fracassados e prontos,
Com o furor na fronte
Explícito, exitoso.
E, num piscar de preces
Supérfluas, superarmos 
O que mais nos pensamos 
E sentimos. Nós somos
A feroz ameaça 
Ao que vale um portento,
O límpido sorriso,
Desde que sós partimos
De Troia. Foi preciso 
Esquecer todo o fogo 
A arder, as chamas altas
Chamando-nos por nomes,
Os corpos profanados 
E as cinzas do que ainda 
Vingava mesmo ao longe.

Adriano Nunes: "Basta a manhã" - Para a minha mãe

"Basta a manhã" - Para a minha mãe


Basta a manhã
Para que haja
Contínuas chances
De haver mudanças.
O sonho alto,
Além dos báratros
Das mágoas vãs,
Tudo repara.
Basta a manhã
Pra que renasça
Plena a esperança,
Ítaca alcance-se
Em um só lance.
Basta a manhã
Para que o olhar
Verta-se em mágica.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

César Vallejo: "En las tiendas griegas" (Tradução de Adriano Nunes)

"Nas tendas gregas" (Tradução de Adriano Nunes)


E a alma se assustou
às cinco daquela tarde azul desbotada.
E o lábio entre os linhos a implorou
com panelas de noivos para a prometida.

O Pensamento, o grã General se cercou
de uma profana lança.
O coração dançava; mais, logo soluçou:
estava ferida aquela que dança?

Nada! Foram os tigres que a fazem correr
a assentar-se naquele recanto, e tristes ver
os ocasos, que chegam desde Atenas.

Não haverá remédio para este hospital de nervos,
para o grã acampamento irritado deste entardecer)
E o General perscruta voar sinistras penas
além.................................................................
no desfiladeiro de meus nervos!


César Vallejo: "En las tiendas griegas"


Y el Alma se asustó
a las cinco de aquella tarde azul desteñida.
El labio entre los linos la imploró
con pucheros de novio para su prometida.

El Pensamiento, el gran General se ciñó
de una lanza deicida.
El Corazón danzaba; más, luego sollozó:
?la bayadera esclava estaba herida?

Nada! Fueron los tigres que la dan por correr
a apostarse en aquel rincón, y tristes ver
los ocasos, que llegan desde Atenas.

No habrá remedio para este hospital de nervios,
para el gran campamento irritado de este atardecer)
Y el General escruta volar siniestras penas
allá ................................

en el desfiladero de mis nervios!




VALLEJO, César. Obra Poética Completa. Lima: Francisco Moncloa Editores, 1968, p. 105.

domingo, 19 de abril de 2015

Entrevista concedida à escritora Arriete Vilela para a Gazeta de Alagoas

Entrevista concedida à escritora Arriete Vilela, publicada na primeira página do Caderno B da Gazeta de Alagoas (http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/acervo.php?c=264475), no dia 18 de abril de 2015




 Adriano Nunes é médico, funcionário público federal, estudante de Direito da Universidade Federal de Alagoas, poliglota, tradutor, poeta, tendo escrito os seus primeiros poemas aos 5 anos e publicado o primeiro, aos 11 anos num jornal alagoano, autor dos livros “Laringes de Grafite (Vidráguas, 2012) e “Antípodas Tropicais”(Vidráguas, 2014). Lançará este ano a tradução do livro “Areopagitica”, de John Milton, escrito em 1644.



1.   “A vida verdadeira, a vida afinal descoberta e tornada clara, por conseguinte a única vida plenamente vivida, é a literatura”?  (Marcel Proust)

Adriano Nunes: a vida verdadeira, quem a saberá? Na Arte, quaisquer vidas são válidas porque somos todos levados a desdobrar-nos para poder vivê-las. A literatura é capaz de dar-nos múltiplas vidas, existências, mas suponho ser impossível determinar que, mesmo múltiplas, são as únicas plenamente vividas. A vida palpável, intangível, por mais dura e amarga que possa ser, ainda tem o aprazível matiz da esperança, do contato, da realidade. Em 1933, Fernando Pessoa, contemporâneo de Proust, escreveu, com beleza magnânima, que “Temos, todos que vivemos,/Uma vida que é vivida/E outra vida que é pensada,/E a única vida que temos/É essa que é dividida/Entre a verdadeira e a errada.” Das vidas que há, valerá qualquer uma desde que tenhamos sonhos. William Shakespeare sentencia em “The Tempest”: “We are such stuff as dreams are made on, and our little life is rounded with a sleep.” É bom que saibamos, conforme o dito shakespeariano, que somos feitos da símile matéria que faz os sonhos.


2.   “Mesmo quando você escreve sobre algo doído, você cria uma alegria estética. Você escreve para sublimar, superar, não para maltratar mais ainda.”  (Ferreira Gullar)

Adriano Nunes: escrever com arte requer um certo afastamento, uma certa possibilidade estética. O belo enquanto elemento estético é destituído de conceitos e apresenta-se como um prazer universal. Mesmo que representemos a realidade doída, nua e crua, num escrito, ela poderá ser esteticamente bela e agradável se ultrapassarmos o limite da escrita comum. Tão simples e forte parece e é dizer que se estar a sofrer, como tão belo e denso será também dizer a mesma sentença com o uso de todas as faculdades intelectuais, com todos os artifícios que a Arte proporciona, com todas as técnicas literárias que, após as vanguardas, foram postas à mão dos escritores. Immanuel Kant na “Crítica da faculdade de julgar” advertia que “o prazer provocado por um objeto, pelo qual qualificamos este de belo, não pode basear-se na representação de sua utilidade.”

3.   “Radical é um sujeito que, ao primeiro sinal de um resfriado, toma a extrema-unção”?  (Millôr Fernandes)

Adriano Nunes: a ironia alegre de Millôr nos transporta para a realidade que também há, pois, dia após dia, convivemos com o outro, que é igual e diferente ao mesmo tempo. Os seres humanos têm uma linha existencial que vai de extremo a extremo, da barbárie à razão plena. E é a razão que o faz afastar-se, cada vez mais, do extremo abjeto da barbárie. Mas essas mudanças não se efetuam ‘radicalmente’. Cada degrau da evolução racional e do progresso cultural percorrido pela humanidade deve ser alcançado um a um, sem pressa ou exageros, para que sejam bem evidenciados os erros e as falhas trilhados.  Parafraseando-o digo: radical é aquele que é capaz de rasgar um poema porque achou que uma rima era uma ameaça armada à beleza além-poema.

4.   “Não conseguirá nunca / tua lança / ferir o horizonte. / A montanha / é um escudo / que o guarda.”  (F. García Lorca)

Adriano Nunes: O inatingível sempre será alvo das lanças. E há uma miríade de horizontes protegida por montanhas. Horizontes estes que criamos, que burlamos, que engendramos nossos por uma questão freudiana de defesa, tais como o amor, a amizade, o outro, as religiões, a felicidade, o bem e o mal, quem somos. Nada deve, entretanto, escapar às flechas e às lanças da crítica e da razão. Tudo que tende a escapar da crítica deve ser tomado como suspeito e perigoso.

5.   “A poesia não pode nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão cotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito.”  (Murilo Mendes)

Adriano Nunes: Se o que é belo independe de conhecimento e conceito, isto é, é um juízo de gosto, um juízo estético ("sensação") cujo prazer é alheio a quaisquer interesses, ou seja, baseia-se em fundamentos a priori, reconhecendo-se como objeto de um prazer necessário, não há então como considerar belos os poemas que abdicam de sua estrutura determinados aspectos formais e traços imprescindíveis de inteligibilidade. Não há como considerar como belo um emaranhado de palavras colecionadas, como se fosse ao acaso, sem nenhuma conexão aparente, sem a mínima lógica. Ora, se a isso puder ser chamado 'poesia' então para se fazer um poema bastaria colocar num saco plástico uma miríade de palavras e sorteá-las para aleatoriamente compor um poema. O que não é verdade, saibamos. Por isso, concordo com Harold Bloom quando distingue que há poetas e versificadores. Pois se convencionou chamar de poema todo escrito em verso. Entretanto, não posso chamar, por isso e consequentemente, todo escritor de versos de poeta. E nem devo jamais dizer que haverá beleza em uma massa dismórfica de palavras, ao acaso, de um belo poema, até de poema! Não se deve considerar asneiras supostamente poéticas como algo concebido esteticamente, que possa agradar necessariamente. Sempre válido, mais uma vez, repetir o ensinamento de Coleridge: poesia - melhores palavras na melhor ordem! Aí, sim, após essas considerações estéticas, posso concordar que a Poesia, a legítima Poesia, servirá como alento e beleza a todos.

6.   “A crítica do outro começa com a crítica de si mesmo”?  (Octavio Paz)

Adriano Nunes: Octavio Paz apenas confirma o ensinamento grego do “conhece-te a ti mesmo”. O mundo depois da crítica kantiana não é mais e nem deve ser o mesmo. Tudo deve se sujeitar à crítica, inclusive e, principalmente, nós mesmos. Kant submeteu a própria crítica à crítica e alertou para a suspeição daqueles que tendem a escapar à crítica. O estudo íntimo, pessoal, crítico e interior de quem somos é que pode, a partir desse exercício, levar-nos a criticar, com responsabilidade, o outro. Só assim é que a razão impera e permite que as frestas do acesso à felicidade se abram.




sábado, 18 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Por onde barcos singram sós e álacres"

"Por onde barcos singram sós e álacres"

E vieste do cerne da cidade,
Onde incontáveis homens recontavam
Seus feitos - minotauros decepados,
Impérios desolados, sob o fardo
De saberem-se homens dessa Arte
Que já gerara Héracles e Horácios,
Homeros e Teseus, demais louvados.
Vieste de si solto, tempo e carne.
E vi-te: mesmo grego dessa pátria
Em que imperam  estranhos céus e táticas,
Por onde barcos singram sós e álacres.
E viste-me: o desejo de passagem.
E seguiste a enfrentar Cila e deixaste-me
Com Caríbdis lutar - memória e nada.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

César Vallejo: "La voz del espejo" (Tradução de Adriano Nunes)

"A voz do espelho" (Tradução de Adriano Nunes)


Assim passa a vida como rara miragem.
A rosa azul que acende e dá o ser ao cardo!
Junto ao dogma do fardo
matador, o sofisma do Bem e a Razão!

Se se tem colhido, ao acaso, o que roçou a mão;
os perfumes voaram, e entre eles tem-se sentido
o mofo que a metade da rota tem crescido
na maçã seca da morta ilusão.

Assim passa a vida,
com cânticos vulpinos de esgotada bacante.
Eu vou todo abalado, adiante..., adiante,
rosnando minha marcha funeral.

Vão ao pé de bramânicos elefantes reais,
e ao sórdido zumbido de um fervor mercurial
pares que alçam brindes esculpidos em rocha
e olvidados crepúsculos uma cruz na boca.

Assim passa a vida, vasta orquestra de Esfinges
que arrojam ao vazio sua marcha funeral.


César Vallejo: "La voz del espejo"


Así pasa la vida, como raro espejismo.
La rosa azul que alumbra y da el ser al cardo!
Junto al dogma del fardo
matador, el sofisma del Bien y la Razón!

Se ha cogido, al acaso, lo que rozó la mano;
los perfumes volaron, y entre ellos se ha sentido
el moho que a mitad de la ruta ha crecido
en el manzano seco de la muerta Ilusión. 

Así pasa la vida,
con cánticos aleves de agostada bacante.
Yo voy todo azorado, adelante..., adelante,
rezongando mi marcha funeral.

Van al pie de brahmánicos elefantes reales,
y al sórdido abejeo de un hervor mercurial
parejas que alzan brindis esculpidos en roca
y olvidados crepúsculos una cruz en la boca.

Así pasa la vida, vasta orquesta de Esfinges
que arrojan al vacío su marcha funeral.


VALLEJO, César. Obra Poética Completa. Lima: Francisco Moncloa Editores, 1968, p. 107.

terça-feira, 14 de abril de 2015

William Shakespeare: "Sonnet 57" (Tradução de Adriano Nunes)

"Soneto 57" (Tradução de Adriano Nunes)

Servo de ti, farei o que senão
Zelar por se cumprir tua vontade?
Não tenho excelso tempo a ser em vão,
Nem ofício a fazer que não te agrade.
Sequer censuro a hora que é infinda
Ao cuidar, meu senhor, do tempo teu,
Nem penso co' amargor a ausência advinda
Quando ao servo teu deste outro adeus.
Nem ouso sob ciúmes perguntar
Onde estarás ou quais os teus negócios,
E espero, triste servo, co' o pensar
Que feliz é quem frui contigo os ócios.
Como tolo o amor é, que em teu querer,
No que possas fazer, mal algum vê.

William Shakespeare: "Sonnet 57"

Being your slave what should I do but tend,
Upon the hours, and times of your desire?
I have no precious time at all to spend,
Nor services to do, till you require.
Nor dare I chide the world-without-end hour,
Whilst I, my sovereign, watch the clock for you,
Nor think the bitterness of absence sour
When you have bid your servant once adieu;
Nor dare I question with my jealous thought
Where you may be, or your affairs suppose,
But, like a sad slave, stay and think of nought
Save, where you are, how happy you make those.
So true a fool is love, that in your will,
Though you do anything, he thinks no ill.


SHAKESPEARE, William. The Sonnets and A Lover's Complaint. Edited by John Kerrigan. London: Penguin, 2009, p. 59.

Diego Hurtado Mendoza: "El escudo de Aquiles, que bañado" (Tradução de Adriano Nunes)

"O escudo de Aquiles, todo banhado" (Tradução de Adriano Nunes)


O escudo de Aquiles, todo banhado
Na existência de Heitor, e com afronta
De Grécia e Ásia, foi mal ofertado
A Ulisses, por varão de maior conta,

Sobre o sepulcro de Ajax fora achado;
Que Ulisses, despontado-se tormenta,
Entre as outras roupas tinha-o lançado
No mar, para deixar a nave isenta.

Alguém, visto o novo acontecimento,
Disse, quiçá movido em consciência:
"Oh juiz sem razão nem fundamento!

Que o cógnito erro dessa imprudência
Veja a cega Fortuna, o cego vento,
E o insensato mar remende a sentença."


Diego Hurtado Mendoza: "El escudo de Aquiles, que bañado"


El escudo de Aquiles, que bañado 
En la sangre de Héctor, con afrenta 
De Grecia y Asia, fué mal entregado 
A Ulises, por varon de mayor cuenta, 

Sobre el sepulcro de Ayax fué hallado; 
Que Ulises, levantándose tormenta, 
Entre las otras ropas lo habia echado 
En la mar, por dejar la nave exenta. 

Alguno, visto el nuevo acaecimiento, 
Dijo, quizá movido en su conciencia: 
"¡Oh juez sin razon ni fundamento! 

Que el conocido error de tu imprudencia 
Vean la ciega fortuna y ciego viento, 
Y el loco mar enmiende la sentencia."


MENDOZA, Diego Hurtado de. Poesía completa. Edición, introducción y notas de José Ignacio Díez Fernández. Barcelona: Planeta, 1989, p. 81.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Do amor que já não cabe em versos"

"Do amor que já não cabe em versos"



Tudo irá mudar, diz o peito
Que não quer parar de pulsar.
Irá dar certo, canta o cérebro
Que não quer parar de pensar.

Outra voz vingará, decerto,
Brilha o olhar com satisfação,
Pois Erato está mesmo perto.
Adeus, adeus, temível tédio!

Mundos se vestem de emoção,
Da verve veraz que carrego
Por ti, ó estético mar

Dos signos íntimos que há,
Dos silêncios em convulsão,
Do amor que já não cabe em versos.

Adriano Nunes: "Átropos"

"Átropos"


Sempre ela irá bater à porta
Da Poesia. Quer pra si tudo
Da alegria, do pensar desnudo.
É quem o fio do verso corta.
O frágil fio em ritmos tecido,
Não mais que isso, a velha tutela.
A astúcia que advém apenas dela,
Leva o porvir a ser decidido.
Sempre ela irá bater à porta
Da Arte. Carrega Galeano
Hoje, ainda engatinhando o ano.
Sabe ela se fingir de morta.

Eduardo Galeano: "celebración de las contradicciones/2" (Tradução de Adriano Nunes)

"Celebração das contradições 2" (Tradução de Adriano Nunes)


Desatar as vozes, dos sonhos não sonhar:  escrevo querendo revelar o real maravilhoso, e descubro o real maravilhoso no exato centro do real horroroso da América. Nestas terras, a cabeça do deus Exu leva a morte na nunca e a vida na face. Cada promessa é uma ameaça; cada perda, um encontro. Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas. Os sonhos anunciam outra realidade possível e os delírios, outra razão. No final, somos o que fazemos para mudar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, inerte na vitrine, senão a sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia. Nessa fé, fugitiva, creio. A mim a única fé digna de confiança, pelo muito que se assemelha ao bicho humano, à-toa mas sagrado, e à louca aventura de viver no mundo. "


Eduardo Galeano: "celebración de las contradicciones/2"


"Desatar las voces, desensoñar los sueños: escribo queriendo revelar lo real maravilloso, y descubro lo real maravilloso en el exacto centro de lo real horroroso de América. En estas tierras, la cabeza del dios Eleggúa lleva la muerte en la nuca y la vida en la cara. Cada promesa es una amenaza; cada pérdida, un encuentro. De los miedos nacen los corajes; y de las dudas, las certezas. Los sueños anuncian otra realidad posible y los delirios, otra razón. Al fin y al cabo, somos lo que hacemos para cambiar lo que somos. La identidad no es una pieza de museo, quietecita en la vitrina, sino la siempre asombrosa síntesis de las contradicciones nuestras de cada día. En esa fe, fugitiva, creo. Me resulta la única fe digna de confianza, por lo mucho que se parece al bicho humano, jodido pero sagrado, y a la loca aventura de vivir en el mundo." 




GALEANO, Eduardo. "celebración de las contradicciones/2". In:_____. El Libro de los abrazos. Madrid: Editorial Siglo XXI,1993.

domingo, 12 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Arte Poética"

"Arte Poética" 



Eus
A pino.
O ser indo
Ao ser, até

Ser mais do que é,
Ante o que faz sentido.
Olho pra o relógio. Explico
Pra o amor que há tempo pra inícios -

Ainda são possíveis as fugas, 
As aventuras e as vontades dúbias,
Quimeras muitas pra atar ao coração.

Não te desesperes! Acalma-me o criar.
Não te abandones! Inquieta-me a inspiração.
E, imerso em veredas de mim, vejo o verso vingar!

Diego Hurtado Mendoza: " Tibio en amores no sea yo jamás" (Tradução de Adriano Nunes)

"Tíbio em amores não seja jamais" (Tradução de Adriano Nunes)


Tíbio em amores não seja jamais,
frio ou cálido, em fogo todo ardido;
quando o tino larga o ritmo pra trás
nem mal é bem, nem bem é conhecido.

Pouco ama o que não perde o sentido,
o tino e a paciência deixa atrás,
e não morra de amor, senão de olvido,
o que de amores pensa saber mais.

Como nave que corre em noite escura
por brava praia em forte temporal,
deixa-se ao vento e submete-se ao mar,

Assim eu, no perigo de penar,
agregando mais males a meu mal,
em desesperação busco ventura.



Diego Hurtado Mendoza: " Tibio en amores no sea yo jamás"


Tibio en amores no sea yo jamás, 
frio o caliente, en fuego todo ardido; 
cuando el seso va fuera de compás 
ni el mal es bien, ni el bien es conocido. 

Poco ama el que no pierde el sentido, 
el seso y la paciencia deja atrás,
y no muera de amor, sino de olvido, 
el que de amores piensa saber más. 

Como nave que corre en noche escura 
por brava playa en recio temporal, 
déjase al viento y métese a la mar, 

Así yo, en el peligro del penar, 
añadiendo más males á mi mal, 
en desesperación busco ventura.




MENDOZA, Diego Hurtado de. Poesía completa. Edición, introducción y notas de José Ignacio Díez Fernández. Barcelona: Planeta, 1989, p. 80.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

John Keats: "Sweet, sweet is the greeting of eyes" (Tradução de Adriano Nunes)

"Doce, doce é a saudação do olhar" (Tradução de Adriano Nunes)


Doce, doce é a saudação do olhar,
E doce é a voz nessa saudação,
Quando os adeuses vetustos e adeuses
Vão pr' onde o passado oscilando está.

Duma agradável mão o nervo cálido,
E confiante um beijo sobre a fronte,
Quando nos demos sobre terra e mar
Onde sulcos são novos para o arado.



John Keats: "Sweet, sweet is the greeting of eyes"


Sweet, sweet is the greeting of eyes, 
And sweet is the voice in its greeting, 
When adieus have grown old and goodbyes 
Fade away where old Time is retreating. 

Warm the nerve of a welcoming hand, 
And earnest a kiss on the brow, 
When we meet over sea and o'er land 
Where furrows are new to the plough.




KEATS, John. The Complete Poems. Edited by John Barnard. New York: Penguin, 2006, p. 256-257.

Guillaume Apollinaire: "L’Avenir" "O porvir" (Tradução de Adriano Nunes)

"O porvir" (Tradução de Adriano Nunes)


Sacudamos a palha
Olhemos para a neve
Escrevamos as cartas
Esperemos as ordens

Fumemos a pipa
Pensando sobre o amor
Os gabiões estão aqui
Olhemos para a rosa

Seca a fonte não estava 
Não mais que o ouro da palha sem mácula
Olhemos para a abelha
E não fantasiemos o porvir

Olhemos para as nossas mãos
Que são a neve
A rosa e a abelha
Assim como o porvir


Guillaume Apollinaire: "L’Avenir"


L'Avenir

Soulevons la paille
Regardons la neige
Écrivons des lettres
Attendons des ordres

Fumons la pipe
En songeant à l’amour
Les gabions sont là
Regardons la rose

La fontaine n’a pas tari
Pas plus que l’or de la paille ne s’est terni
Regardons l’abeille
Et ne songeons pas à l’avenir

Regardons nos mains
Qui sont la neige
La rose et l’abeille
Ainsi que l’avenir



APOLLINAIRE, Guillaume. "Calligrammes". In:____. Poesie. Milano: Biblioteca Universale Rizzoli, 1979, p.220.

William Carlos Williams: "Poem" "Poema" (Tradução de Adriano Nunes)

"Poema" (Tradução de Adriano Nunes)


A procurar, de repente,
o meu vetusto olhar viu
a lua nova no céu

Mas era do meu olhar,
uma estrela trepidante.
No céu sem qualquer luar


William Carlos Williams: "Poem"

Poem

Looking up, of a sudden,
my old eyes saw
the new moon in the sky


But it was of my eyes,
a jigging star.
No moon was in the sky



WILLIAMS, William Carlos. "Poems 1950". In:_____. The collected Poems of William Carlos Williams - Vol. II. Edited by Christopher MacGowan. New York: New Directions, 2001, p. 223.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Um dever diverso"

"Um dever diverso"

Verso não é venda.
Verso é quase renda.
Verso não se vende.
Verso, sóis desvende!
Verso não é venda.
Verso é só visão.
Verso é dimensão.
Verso até se emenda!
Verso a tudo atende.
Verso a versos tende.
Verso, me apreenda!
Verso é mesmo prenda.
Versos em contenda?
Verso como adendo.
Versos em mim dentro.
Verso se desvenda.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Tolo Proteu"

"Tolo Proteu"

Quando eu pensei ser teu,
Outro em mim aconteceu,
E o amor todo me absorveu.
O olhar já não era o meu.

Quando eu sonhei ser teu,
Outro em mim se desprendeu,
E ardeu por não ser só eu.
O andar já não era o meu.

Quando eu senti ser eu,
Outro em mim resplandeceu-
Era decerto o apogeu,
Mas o teu ser me esqueceu.

Por ti, fui tolo Proteu -
Deu no que deu, e doeu.

Adriano Nunes: "Poesía! Poesía!"

"Poesía! Poesía!" 



Tú tienes tantos nombres
Y ellos me alientan todo.
Libertad, amor, norte,
Placer, felicidad,
Inspiración, sol, brote,
Dicha, sinapsis, suerte,
Musas y muchos otros.
?Cómo te alabaría?
Y cuando lejos vas
Para la casa del Olvido,
Más quiero estar contigo.
Y tu mágico nombre
Grito hacia el infinito:
Poesía! Poesía!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Gabriela Mistral: "Riqueza" (Tradução de Adriano Nunes)

"Riqueza" (Tradução de Adriano Nunes)


Tenho a fortuna fiel
E a fortuna perdida:
Aquela como rosa,
A outra como espinho.
Do quanto me roubaram
Não fui despossuída:
Tenho a fortuna fiel
E a fortuna perdida,
E estou rica de púrpura
E de melancolia.
Ai, que amante é a rosa
E quão amado o espinho!
Como o duplo contorno
De frutas parecidas,
Tenho a fortuna fiel
E a fortuna perdida...


Gabriela Mistral: "Riqueza"


Riqueza

Tengo la dicha fiel
Y la dicha perdida:
La una como rosa,
La otra como espina.
De lo que me robaron
No fui desposeída:
Tengo la dicha fiel
Y la dicha perdida,
Y estoy rica de púrpura
Y de melancolía.
¡Ay, qué amante es la rosa
Y qué amada la espina!
Como el doble contorno
De dos frutas mellizas,
Tengo la dicha fiel
Y la dicha perdida...



MISTRAL, Gabriela. "Poesías Completas". Santiago de Chile: Andres Bello, 2001.


domingo, 5 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Do tudo ou nada"

"Do tudo ou nada"


Adoras tanto
A liberdade
Que até liberta
De ti encontras-te
Diversas vezes.

És folha verde
Que se desprende
Das grãs sequoias
E é levada,
Nas mãos do vento,
Pra além da esfera
Do movimento
Imprevisível.
És mesmo pétala
Que se arrebenta
De algum crisântemo
E tão abrupta-
Mente despenca
Do en ten di men to, em
Câ me ra len ta.
E és o pólen
Todo disperso
Na imensidão
Dos vãos do íntimo,
Quimera mágica,
Amor infindo
Que se enfeitou
Do tudo ou nada:
És a palavra
Que sempre escapa.

Adriano Nunes: "O amor"

"O amor"

O mar
Imenso
E a quântica
Sereia.

Contente
A música
Repete-se,
Com um
Tom grave
E um tom
Agudo,
Tum-tá!,
A sístole e a
Diástole
Pra tudo,
E jorra
Do fundo
Do peito
Do amante,
Lugar
Só feito
De carne
E álibis,
De átrios
E báratros
Profundos,
Recantos
De lances
Tocantes.
Navios,
Naus, barcos,
Jangadas,
Fragatas,
Canoas
E botes-
Naufrágios
Perfazem
Um número
Crescente.
E há
Os que
Também
Pretendem
Poder
Forjar
Um truque,
Ter nortes -
O risco
De estar
Entregue
À mágica
Do encanto, 
No entanto,
É tanto -
Que engano!
De Circe,
Da ira
De Hera
E de
Posídon,
Fugir
Até
Que podem,
Mas desse
Batuque
Que surge
Tão nítido
E forte,
É quase
Incrível!
O tempo
E o corpo
São prova
Concreta
De que
Ninguém
Escapa
Ao ritmo
Do ser
Metáfora-
Marítimo.
Fragmentos
Bem boiam
Nas águas
Do íntimo
Do nada,
O que
Nem resta
E marcas
Deixou,
Que fogo
Em todo
Pensar
Ateia.
Que ainda
Resiste
Ao amor -

O mar
Imenso e a
Pulsátil
Sereia?

Adriano Nunes: "Enquanto exprime o nada"

"Enquanto exprime o nada"


Outra alvorada ardente,
Outro instante pra sempre.
Imerges em meu verso
Tal qual uma metáfora
Desmedida de mim.
E finco a minha língua
No teu desassossego
Porque em ti me desejo.
Conduzes-me ao prazer
De ser quem mais me sinto,
Porque infinitos quero,
Feito Tirteu, o cego,
A guiar toda Esparta
Com cantos e com lábia.

Flagro tuas mãos - sobre
Meu dorso - Já sou outro! -
Dissiparem as dores
Do acaso: mal sabíamos
Do amor, dos seus perigos,
Mas corremos os riscos
Ante o sol da ilusão.
E deslizamos tão
Desinibidos, vivos!,
Sobre o piso do instinto
Da tentação. Provamos
De nós o exato tanto
Que oferece a palavra
Enquanto exprime o nada.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Por beleza, por amor"

"Por beleza, por amor"


Era apenas uma tarde.
Troia ainda não ardia
Em chamas. Mas algo forte
Meu coração alcançou.
Eu, Páris, filho do rei,
Içado ao infinito vi-me.
Disseram-me ser sim deuses,
Esses que me ergueram à
Função de juiz de lide.
Era apenas uma tarde.
Logo eu, o irmão de Heitor,
Minha cidade entreguei,
Sem saber, ao fogo e às flechas,
Por beleza, por amor.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Adriano Nunes: "Aberto pra a ilusão"

"Aberto pra a ilusão"


Eis o feroz dragão
Voando em direção
Às delícias que são 
Plenamente a amplidão
Das taras, porém não
É tão simples questão:
O amor é mesmo um vão
Aberto pra a ilusão,
Controla o coração,
Dá cegueira à visão,
Faz gelar frio as mãos,
Palavras servem não,
Porque delas virão
Medos de as dizer, quão
Inúteis elas são.
O que farei então
Com toda tentação
De tocar-te, à emoção
De saber-te paixão?
Sinto que o sim e o não
Duelam, quase em vão,
Pra conter o dragão
Que é o desejo, tão
Repleto de intenção.