sábado, 11 de outubro de 2014

Adriano Nunes: "De átimos íntimos"

"De átimos íntimos"


Quando me trouxeram
Para a capital,
Tive um misto de
Alegria e medo.
Como bem relembro-me
Do vasto quintal
Com uma mangueira e um
Pé de fruta-pão -
Lar inaugural!
A praia tão perto
E tão poluída!
Os colegas e
Os Mestres a rirem
Do forte sotaque
Que eu feliz tinha.
As ilusões minhas,
O início poético!
A solidão máxime
A levar-me aos livros,
Ao que eu queria
Ter sempre comigo.
Saudade de vó,
Do amor puro e pleno.
Saudade de não
Ter que ao coração
Entregar feridas,
Fel, farpa ou venenos,
Tal qual um troféu.
E tudo se despe
Agora. Um ruir
De átimos íntimos
Que por mim procuram.
Que dádiva era
Ganhar uma caixa
De papelão para
Guardar minhas roupas!
Que portento era
Não conhecer nada
Do que fora mesmo
O mundo! Um cinema
Aberto pra os seus
Enquanto, distante,
Eu sangrava em ser
Só eu: um poema
Para o que restava.


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