"Abre a porta"
Desprende-se a noite do báratro infinito.
Baco ainda não veio e
Tudo parece estar mesmo sem graça.
Dançam a valsa avulsa intactas taças
Como se a vida fosse dar em nada.
Alguém flerta-me de longe.
Alguém escapa pela tangente da lente
De contato. Mero embaraço
De olhos e luzes e liames íntimos.
Quem é o espectro esperto, desperto, perto,
Pronto para dar o bote
Em meu peito sem norte?
Dez para dez, a rua arde, a língua pede o
Álcool forte das desilusões repentinas.
Tudo gira e pode dar até certo,
Mas meu coração, disposto
A todas as aventuras
De uma vez só, indaga, sem demora,
Que horas são agora?
Com bacantes e Príapo,
Com o cântaro à mão,
Ágil, a sorrir, Baco
Abre a porta.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Adriano Nunes: "Evoé, Bandeira!"
"Evoé, Bandeira!"
É carnaval, e
O meu coração
Já se fantasia
De toda alegria,
Pra ganhar o agora.
Vestiu-se de versos
Bacanais, das máscaras
Do que em mim aflora,
Da orgia lírica.
Vinga o Carnaval
A cada virada
Página, sobretudo.
Evoé, rei Momo!
Evoé, deus Baco!
Vênus, evoé!
Alas abre, onírica
A vida. Mas como
Não estar imerso
No que se declara
Durante o cavaco
Festivo, sem fim?
Vibra o carnaval
No vácuo de tudo,
De toda maneira.
Evoé, Bandeira!
É carnaval, e
O meu coração
Já se fantasia
De toda alegria,
Pra ganhar o agora.
Vestiu-se de versos
Bacanais, das máscaras
Do que em mim aflora,
Da orgia lírica.
Vinga o Carnaval
A cada virada
Página, sobretudo.
Evoé, rei Momo!
Evoé, deus Baco!
Vênus, evoé!
Alas abre, onírica
A vida. Mas como
Não estar imerso
No que se declara
Durante o cavaco
Festivo, sem fim?
Vibra o carnaval
No vácuo de tudo,
De toda maneira.
Evoé, Bandeira!
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Adriano Nunes: "O magno eco sináptico"
"O magno eco sináptico"
Para uma conversa franca,
Deuses eles chamam, pois
A ágora está tomada
Por miríade de gentes.
Uma algaravia agora
Faz-se presente, porém,
Parece uníssona, ante
Os que dela se aproximam.
Eis que muito exigem, querem
A básica cesta, toda
A existência sem amarras,
O êxtase de ser livre,
Outro café sem açúcar,
A casa limpa, sem ácaros,
A biblioteca de Borges,
Ítacas, Macondos, Troias,
O magno eco sináptico,
O lápis e a folha em branco
Prontos para declarar
O fim de guerras e mágoas.
Ou mesmo o quântico fim
Dos deuses desmedidos,
Ditadores, demagogos,
Que almejam todo o infinito
Para si, silenciosos
Em suas preces divinas
Para a Grã Humanidade,
Numa submissão patética.
Para uma conversa franca,
Deuses eles chamam, pois
A ágora está tomada
Por miríade de gentes.
Uma algaravia agora
Faz-se presente, porém,
Parece uníssona, ante
Os que dela se aproximam.
Eis que muito exigem, querem
A básica cesta, toda
A existência sem amarras,
O êxtase de ser livre,
Outro café sem açúcar,
A casa limpa, sem ácaros,
A biblioteca de Borges,
Ítacas, Macondos, Troias,
O magno eco sináptico,
O lápis e a folha em branco
Prontos para declarar
O fim de guerras e mágoas.
Ou mesmo o quântico fim
Dos deuses desmedidos,
Ditadores, demagogos,
Que almejam todo o infinito
Para si, silenciosos
Em suas preces divinas
Para a Grã Humanidade,
Numa submissão patética.
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Juan Ramón Jiménez: "Te deshojé, como una rosa"
"Desfolhei-te, como uma rosa" (Tradução de Adriano Nunes)
Desfolhei-te, como uma rosa
para ver-te a alma,
e não a vi.
Mas tudo em torno
- horizontes de terras e de mares -,
tudo, até o infinito,
fartou-se de uma essência
imensa e viva.
Juan Ramón Jiménez: "Te deshojé, como una rosa"
Te deshojé, como una rosa
para verte tu alma,
y no la vi.
Mas todo en torno
– horizontes de tierras y de mares –,
todo, hasta el infinito,
se colmó de una esencia
inmensa y viva.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Obra Completa: Poesía. Madrid: Visor Libros, 2008.
Desfolhei-te, como uma rosa
para ver-te a alma,
e não a vi.
Mas tudo em torno
- horizontes de terras e de mares -,
tudo, até o infinito,
fartou-se de uma essência
imensa e viva.
Juan Ramón Jiménez: "Te deshojé, como una rosa"
Te deshojé, como una rosa
para verte tu alma,
y no la vi.
Mas todo en torno
– horizontes de tierras y de mares –,
todo, hasta el infinito,
se colmó de una esencia
inmensa y viva.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Obra Completa: Poesía. Madrid: Visor Libros, 2008.
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TRADUÇÃO
Juan Ramón Jiménez: "Hastío"
"Enfado" (Tradução de Adriano Nunes)
Enfado
Um exército gris de cegas horas
cerca-nos
- qual ondas, como nuvens -
na tristeza que elas nos trazem.
Temos onde adentrado?
Que nos quer esta rainha?
Não sei por que nos choram,
não sei aonde nos levam.
- ... E sempre são as mesmas
e de maneira idêntica -.
Sua desnudez é tanta,
que já não é. Semelham
à desesperança morta em tédio,
que nada dá e nada espera.
Nem as matamos, nem nos matam!
... E crescem sem cessar, eu não sei a quê,
sem nada para olhar e cegas...
Juan Ramón Jiménez: "Hastío"
Hastío
Un ejército gris de ciegas horas
nos cerca
— cual olas, como nubes — ,
en la tristeza que nos traen ellas.
¿En dónde hemos entrado?
¿Qué nos quiere esta reina?
No sé por qué nos lloran,
no sé a dónde nos llevan.
— ...Y siempre son las mismas
y de manera idéntica—.
Su desnudez es tanta,
que ya no es. Semejan
a la desesperanza muerta en tedio,
que nada da y nada espera.
¡Ni las matamos, ni nos matan!
...Y crecen sin cesar, yo no sé a qué,
sin nada que mirar y ciegas...
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Diario de un poeta recién casado. Antología poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madri: Alianza Editorial, 2006, p. 210-211.
Enfado
Um exército gris de cegas horas
cerca-nos
- qual ondas, como nuvens -
na tristeza que elas nos trazem.
Temos onde adentrado?
Que nos quer esta rainha?
Não sei por que nos choram,
não sei aonde nos levam.
- ... E sempre são as mesmas
e de maneira idêntica -.
Sua desnudez é tanta,
que já não é. Semelham
à desesperança morta em tédio,
que nada dá e nada espera.
Nem as matamos, nem nos matam!
... E crescem sem cessar, eu não sei a quê,
sem nada para olhar e cegas...
Juan Ramón Jiménez: "Hastío"
Hastío
Un ejército gris de ciegas horas
nos cerca
— cual olas, como nubes — ,
en la tristeza que nos traen ellas.
¿En dónde hemos entrado?
¿Qué nos quiere esta reina?
No sé por qué nos lloran,
no sé a dónde nos llevan.
— ...Y siempre son las mismas
y de manera idéntica—.
Su desnudez es tanta,
que ya no es. Semejan
a la desesperanza muerta en tedio,
que nada da y nada espera.
¡Ni las matamos, ni nos matan!
...Y crecen sin cesar, yo no sé a qué,
sin nada que mirar y ciegas...
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Diario de un poeta recién casado. Antología poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madri: Alianza Editorial, 2006, p. 210-211.
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Adriano Nunes: "Narciso"
"Narciso"
Outro olhar e um sorriso.
Eis que não mais que isso
O meu coração quer.
Uma ilusão qualquer,
Mergulho e o risco até,
O intrincado croché
Do desejo, o improviso,
Jamais o paraíso.
Nesta tarde, o amor é
Nota de rodapé,
Íntimo compromisso
Líquido - Eu, Narciso!
Outro olhar e um sorriso.
Eis que não mais que isso
O meu coração quer.
Uma ilusão qualquer,
Mergulho e o risco até,
O intrincado croché
Do desejo, o improviso,
Jamais o paraíso.
Nesta tarde, o amor é
Nota de rodapé,
Íntimo compromisso
Líquido - Eu, Narciso!
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Adriano Nunes: "Elegia"
"Elegia"
Ó Mnemósine,
Já, devolve-me
O menino
Que eu era,
Clímax do
Existir
Que sequer
Bem sabia
Dos enigmas
Das metáforas,
Dos perigos
Do lirismo
Incontido,
Das ciladas
Das leis rígidas
Das laringes
De grafite,
Das grãs regras
Da poética,
Sem demora.
Ó Mnemósine,
Já, devolve-me
Todo o instante
Raro em que
Cada verso
Era o quântico
Aparato
Da inocência,
A mais grácil
Primavera
Da alegria,
Ante o ritmo
Do brincar,
Sem a pressa
Opressiva
Deste corre-
Corre, agora,
Que, voraz,
Tudo encerra,
Tudo poda!
Ó Mnemósine,
Já, devolve-me
O menino
Que eu era,
Clímax do
Existir
Que sequer
Bem sabia
Dos enigmas
Das metáforas,
Dos perigos
Do lirismo
Incontido,
Das ciladas
Das leis rígidas
Das laringes
De grafite,
Das grãs regras
Da poética,
Sem demora.
Ó Mnemósine,
Já, devolve-me
Todo o instante
Raro em que
Cada verso
Era o quântico
Aparato
Da inocência,
A mais grácil
Primavera
Da alegria,
Ante o ritmo
Do brincar,
Sem a pressa
Opressiva
Deste corre-
Corre, agora,
Que, voraz,
Tudo encerra,
Tudo poda!
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Adriano Nunes: "Ante a artimanha inútil de ter máscaras"
"Ante a artimanha inútil de ter máscaras"
Esta incapacidade de entender
A mim mesmo, de arremessar ao outro
A compreensão que ter eu devia,
De seus erros, limites, diferenças.
Por que me entrego à dor, dessa maneira
Abrupta, sem alívio dar à lida
De todo instante, como se fosse preciso
Assentar cada lágrima em meu ser?
Não será todo erro alheio, meu
Também? Todo limite, toda mágoa,
Em reciprocidade sobre-humana?
Não será que em meu verso o outro mesclo
Com o que penso ser eu, pra ser tantos,
Ante a artimanha inútil de ter máscaras?
Esta incapacidade de entender
A mim mesmo, de arremessar ao outro
A compreensão que ter eu devia,
De seus erros, limites, diferenças.
Por que me entrego à dor, dessa maneira
Abrupta, sem alívio dar à lida
De todo instante, como se fosse preciso
Assentar cada lágrima em meu ser?
Não será todo erro alheio, meu
Também? Todo limite, toda mágoa,
Em reciprocidade sobre-humana?
Não será que em meu verso o outro mesclo
Com o que penso ser eu, pra ser tantos,
Ante a artimanha inútil de ter máscaras?
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Ezra Pound: "The return"
"O retorno" (Tradução de Adriano Nunes)
Vê, eles retornam; ah, vê a tentativa
Movimentos, e os pés lentos,
O embaraço no ritmo e o incerto
Vacilo!
Vê, eles retornam; um por um,
Com medo, assim meio despertos
Como se devesse pausar a neve
E murmurar no vento,
e metade regressasse;
Estes foram os 'Alados Temerosos'
Invioláveis.
Deuses de sapato com asas!
Com eles, os cães de prata,
farejando o rastro de ar!
Salve! Salve!
Estes foram os ágeis para saquear;
Estes os astutos perfumados;
Estas foram as almas de sangue.
Detêm-se nas correntes,
pálidos os acorrentados!
Ezra Pound: "The return"
The return
See, they return; ah, see the tentative
Movements, and the slow feet,
The trouble in the pace and the uncertain
Wavering !
See, they return, one, and by one,
With fear, as half-awakened;
As if the snow should hesitate
And murmur in the wind,
and half turn back;
These were the ‘ Wing'd-with-Awe,’
Inviolable.
Gods of the winged shoe!
With them the silver hounds,
sniffing the trace of air!
Haie! Haie!
These were the swift to harry;
These the keen-scented;
These were the souls of blood.
Slow on the leash,
pallid the leash-men!
POUND, Ezra."The return". In: The New Pocket Anthology of American Verse From Colonial Days to the Present. New York: Washington Square Press, 1967, p. 384-385.
Vê, eles retornam; ah, vê a tentativa
Movimentos, e os pés lentos,
O embaraço no ritmo e o incerto
Vacilo!
Vê, eles retornam; um por um,
Com medo, assim meio despertos
Como se devesse pausar a neve
E murmurar no vento,
e metade regressasse;
Estes foram os 'Alados Temerosos'
Invioláveis.
Deuses de sapato com asas!
Com eles, os cães de prata,
farejando o rastro de ar!
Salve! Salve!
Estes foram os ágeis para saquear;
Estes os astutos perfumados;
Estas foram as almas de sangue.
Detêm-se nas correntes,
pálidos os acorrentados!
Ezra Pound: "The return"
The return
See, they return; ah, see the tentative
Movements, and the slow feet,
The trouble in the pace and the uncertain
Wavering !
See, they return, one, and by one,
With fear, as half-awakened;
As if the snow should hesitate
And murmur in the wind,
and half turn back;
These were the ‘ Wing'd-with-Awe,’
Inviolable.
Gods of the winged shoe!
With them the silver hounds,
sniffing the trace of air!
Haie! Haie!
These were the swift to harry;
These the keen-scented;
These were the souls of blood.
Slow on the leash,
pallid the leash-men!
POUND, Ezra."The return". In: The New Pocket Anthology of American Verse From Colonial Days to the Present. New York: Washington Square Press, 1967, p. 384-385.
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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Walt Whitman: "The last invocation"
"A última invocação" (Tradução de Adriano Nunes)
A última invocação
Por fim, ternamente,
Das muralhas da poderosa fortaleza,
Do fecho dos lacrados cadeados, das portas bem cerradas,
Deixa-me ter asas.
Deixa-me planar silenciosamente avante;
Com a chave da leveza destrancar as trancas - com um sopro,
Abre as portas Ó alma.
Ternamente - não sejas impaciente;
(Forte é teu abraço Ó mortal corpo,
Forte é teu abraço Ó amor).
Walt Whitman: "The last invocation"
The last invocation
AT the last, tenderly,
From the walls of the powerful fortress’d house,
From the clasp of the knitted locks, from the keep of the well-closed doors,
Let me be wafted.
Let me glide noiselessly;
With the key of softness unlock the locks—with a whisper,
Set ope the doors O soul.
Tenderly—be not impatient,
(Strong is your hold O mortal flesh,
Strong is your hold O love).
WHITMAN, Walt. The Complete Poems. New York: Penguin, 2005.
WHITMAN, Walt. Leaves of Grass. Philadelphia: DAVID McKAY, PUBLISHER,1891-'2, page 346.
A última invocação
Por fim, ternamente,
Das muralhas da poderosa fortaleza,
Do fecho dos lacrados cadeados, das portas bem cerradas,
Deixa-me ter asas.
Deixa-me planar silenciosamente avante;
Com a chave da leveza destrancar as trancas - com um sopro,
Abre as portas Ó alma.
Ternamente - não sejas impaciente;
(Forte é teu abraço Ó mortal corpo,
Forte é teu abraço Ó amor).
Walt Whitman: "The last invocation"
The last invocation
AT the last, tenderly,
From the walls of the powerful fortress’d house,
From the clasp of the knitted locks, from the keep of the well-closed doors,
Let me be wafted.
Let me glide noiselessly;
With the key of softness unlock the locks—with a whisper,
Set ope the doors O soul.
Tenderly—be not impatient,
(Strong is your hold O mortal flesh,
Strong is your hold O love).
WHITMAN, Walt. The Complete Poems. New York: Penguin, 2005.
WHITMAN, Walt. Leaves of Grass. Philadelphia: DAVID McKAY, PUBLISHER,1891-'2, page 346.
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WALT WHITMAN
Adriano Nunes: "Poética" - Carmen Silvia Presotto
"Poética"- Carmen Silvia Presotto
Pela janela do carro,
Eu observo o
Corre-corre rotineiro
De transeuntes
Transtornados pelo acaso.
Os meus sonhos,
Ecos de tudo, relembram-me,
Sem vacilo,
De que posso desviar-me
Das vis regras,
Corvos à espreita do fígado
Já bicado.
Inúmeras folhas rasgo,
Fico tonto,
Nenhum verso quer dar certo,
Quer vingar,
Ficar pronto. Só o esforço,
Carne e osso!
Ai, quanto me desespero!
Vai-se a tarde.
O trânsito, o olhar atento.
De repente,
- Não deve ser diferente
Com os outros
Vates - Lançam-me ao infinito
As sinapses!
Pela janela do carro,
Eu observo o
Corre-corre rotineiro
De transeuntes
Transtornados pelo acaso.
Os meus sonhos,
Ecos de tudo, relembram-me,
Sem vacilo,
De que posso desviar-me
Das vis regras,
Corvos à espreita do fígado
Já bicado.
Inúmeras folhas rasgo,
Fico tonto,
Nenhum verso quer dar certo,
Quer vingar,
Ficar pronto. Só o esforço,
Carne e osso!
Ai, quanto me desespero!
Vai-se a tarde.
O trânsito, o olhar atento.
De repente,
- Não deve ser diferente
Com os outros
Vates - Lançam-me ao infinito
As sinapses!
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domingo, 23 de fevereiro de 2014
Adriano Nunes: "Astúcias e asteriscos"
"Astúcias e asteriscos"
Regras e ritmos rígidos,
Para que tanto isso?
Do amor, o compromisso
É sequer ter sentido.
Falatório, sai fora!
O coração agora
Por si bem se desdobra,
Sem inútil manobra.
E, além, longe, que nome
Acena-me e consome
Tudo que houvera ontem?
Que não nos desapontem
Os sonhos. Nem os riscos.
Outro beijo proibido,
Um umbigo lambido,
Astúcias e asteriscos.
Regras e ritmos rígidos,
Para que tanto isso?
Do amor, o compromisso
É sequer ter sentido.
Falatório, sai fora!
O coração agora
Por si bem se desdobra,
Sem inútil manobra.
E, além, longe, que nome
Acena-me e consome
Tudo que houvera ontem?
Que não nos desapontem
Os sonhos. Nem os riscos.
Outro beijo proibido,
Um umbigo lambido,
Astúcias e asteriscos.
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sábado, 22 de fevereiro de 2014
Antonio Machado: "De la vida" (Coplas mundanas)
"Da vida" (Tradução de Adriano Nunes)
(Coplas mundanas)
Da vida
Poeta ontem, hoje triste e pobre
filósofo tresnoitado,
tenho em moedas de cobre
o ouro de ontem trocado.
Sem prazer e sem fortuna,
passou como uma quimera
a juventude, a primeira...
mais que uma não há, una:
a de dentro é a de fora.
Passou como torvelinho,
boemia e aborrascada,
farta de copla e vinho,
minha juventude amada.
Hoje observo as galerias
da memória, pra fazer
aleluias de elegias
de ontem desconsoladas.
Adeus, lágrimas cantoras,
lágrimas que alegremente
brotáveis, como na fonte
as limpas águas sonoras!
Boas lágrimas vertidas
por um amor juvenil,
qual frescas chuvas caídas
sobre as campinas de abril!
Já não canta o rouxinol
de certa noite serena;
saramos do mal do amor
que sabe chorar sem pena.
Poeta ontem, hoje triste e pobre
filósofo tresnoitado,
Tenho em moedas de cobre
O ouro de ontem trocado.
Antonio Machado: "De la vida" (Coplas mundanas)
De la vida
Poeta ayer, hoy triste y pobre
filósofo trasnochado,
tengo en monedas de cobre
el oro de ayer cambiado.
Sin placer y sin fortuna,
pasó como una quimera
mi juventud, la primera...
la sola, no hay más que una:
la de dentro es la de fuera.
Pasó como un torbellino,
bohemia y aborrascada,
harta de coplas y vino,
mi juventud bien amada.
Y hoy miro a las galerías
del recuerdo, para hacer
aleluyas de elegías
desconsoladas de ayer.
¡Adiós, lágrimas cantoras,
lágrimas que alegremente
brotabais, como en la fuente
las limpias aguas sonoras!
¡Buenas lágrimas vertidas
por un amor juvenil,
cual frescas lluvias caídas
sobre los campos de abril!
No canta ya el ruiseñor
de cierta noche serena;
sanamos del mal de amor
que sabe llorar sin pena.
Poeta ayer, hoy triste y pobre
filósofo trasnochado,
tengo en monedas de cobre
el oro de ayer cambiado.
MACHADO, Antonio. Poesías completas. Madrid: Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, 1917, p. 108-110.
(Coplas mundanas)
Da vida
Poeta ontem, hoje triste e pobre
filósofo tresnoitado,
tenho em moedas de cobre
o ouro de ontem trocado.
Sem prazer e sem fortuna,
passou como uma quimera
a juventude, a primeira...
mais que uma não há, una:
a de dentro é a de fora.
Passou como torvelinho,
boemia e aborrascada,
farta de copla e vinho,
minha juventude amada.
Hoje observo as galerias
da memória, pra fazer
aleluias de elegias
de ontem desconsoladas.
Adeus, lágrimas cantoras,
lágrimas que alegremente
brotáveis, como na fonte
as limpas águas sonoras!
Boas lágrimas vertidas
por um amor juvenil,
qual frescas chuvas caídas
sobre as campinas de abril!
Já não canta o rouxinol
de certa noite serena;
saramos do mal do amor
que sabe chorar sem pena.
Poeta ontem, hoje triste e pobre
filósofo tresnoitado,
Tenho em moedas de cobre
O ouro de ontem trocado.
Antonio Machado: "De la vida" (Coplas mundanas)
De la vida
Poeta ayer, hoy triste y pobre
filósofo trasnochado,
tengo en monedas de cobre
el oro de ayer cambiado.
Sin placer y sin fortuna,
pasó como una quimera
mi juventud, la primera...
la sola, no hay más que una:
la de dentro es la de fuera.
Pasó como un torbellino,
bohemia y aborrascada,
harta de coplas y vino,
mi juventud bien amada.
Y hoy miro a las galerías
del recuerdo, para hacer
aleluyas de elegías
desconsoladas de ayer.
¡Adiós, lágrimas cantoras,
lágrimas que alegremente
brotabais, como en la fuente
las limpias aguas sonoras!
¡Buenas lágrimas vertidas
por un amor juvenil,
cual frescas lluvias caídas
sobre los campos de abril!
No canta ya el ruiseñor
de cierta noche serena;
sanamos del mal de amor
que sabe llorar sin pena.
Poeta ayer, hoy triste y pobre
filósofo trasnochado,
tengo en monedas de cobre
el oro de ayer cambiado.
MACHADO, Antonio. Poesías completas. Madrid: Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, 1917, p. 108-110.
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