segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Adriano Nunes: "Quando iremos chegar lá?"

"Quando iremos chegar lá?"


Eu tenho os meus muitos medos.
Ontem eu roí as unhas
Porque tenho muitos medos.
As unhas crescer irão.
Os medos podem ou não
Aumentar. Sequer supunha
Que tantos medos eu tinha.
Quando as unhas têm tamanho
Que dê pra cortá-las, corto-as.
Medos não são algo à toa.
A liberdade também
Não é. Que nem minhas unhas,
Liberdades são cortadas.
Medo de perdê-las tenho.
Ah, quanta gente está presa
A desejos, a si mesma!
Ontem eu roí as unhas
Porque algum medo até tive.
Marielle era livre e
Morreu porque era livre.
Há quem não tolere quem
É livre, quem vive bem.
Boétie disse que já
Nascemos livres. Rousseau
Isso também depois disse.
Símile Kant afirmou.
Quando iremos chegar lá?
Ou será tudo crendice?
Minhas unhas crescerão.
Liberdades defendidas,
E pessoas libertadas -
Eis a regra mais sensata!
Tenho alguns medos, mas não
Tenho medo de sabê-los.
Eu sei que sou livre, mesmo
Quando o mundo grã prisão
Quer tornar-se. A Poesia,
Sim, não tem medo de nada.
A Poesia não tem
Medo mesmo de ninguém.
Contra o horror, versos à mão.


Adriano Nunes

Nenhum comentário: