sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Adriano Nunes: "À beira de qualquer rabisco"

"À beira de qualquer rabisco"

Abrigam-se em mim tempos 
Que nunca sonhei.
E, sem compreender como sonhá-los 
De fato, de mim mesmo abdico e
Abro violentamente as frenéticas frestas
Do meu ser,  ( Muito me arrisco? )
Tentando entender esse estranho trânsito,
Gasto gesto a passar,
Sem pressa, sem se ver a presa fácil,
Por avenidas travestidas de vestígios,
Carros dispersos
Em mil movimentos complexos, átomos
Palpáveis, as engrenagens mágicas
Do agora, dígitos-voadores,
Eclipses de disse-não-disse, os lapsos-computadores,
Os clichês.

Não será preciso 
 Verter-me no que já vi pela janela.
Não me indico a direção
Onde vingam portas entreabertas,
Quimeras quânticas sem fim,
Frases epilépticas com gosto 
De tédio e  solidão.
O cinema lá fora, 
Ainda que à espera do primeiro pagante,
É o meu coração.
Aqui, tudo passa, perpassa, mas para
Ante o contato refratário
Das deliciosas tentações da palavra
Ao olvido dada,
No primeiro instante 
Do grã corte.

Longe? Que lugar é esse,
Onde se diz haver
O in-dizível, o in-finito, o in-alcançável
À beira de qualquer rabisco?
Eis o que canto: o não-canto prismático
Da promessa in-contida
De saber-me ilusão. Que re-canto é esse
Em que o peito se esconde,
Onde se voa pelos cotovelos
Dos desejos, onde se rasga a página
Do presente, do que se sente,
Onde a regra é a atriz coadjuvante,
Onde os bastidores são mais
Importantes, as miragens, 
Os oásis de nitrato de prata,
Não só me salvam?

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