"In locus" - Para Mário de Sá-Carneiro
Converso com as gavetas.
Paquero mesmo as paredes.
Os armários? Posso amá-los,
Sem medo. Movem-se os móveis
Pelo quarto. São só quatro
Horas da tarde e tudo arde,
Em segredo, sob silêncios.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Oligoego" - Para Dr. José Mariano Filho
"Oligoego" - para Dr. José Mariano Filho
Expor apenas poemas
Prematuros, pensamentos
Ainda indefesos, versos
Placentários, sem espíritos,
Sem reflexos, para quê,
Feito feto cianótico,
Sem choro, quase chocando,
Sem as tais linhas impressas
Do tempo, da gestação,
Sufocado pela pressa
Espessa, por esse sonho
De vir à luz, dando a face
À porrada, à roda-viva,
Enquanto, à tez do papel,
Desesperado, vencido,
Um preguiçoso poeta?
Parafusos soltos, sumo
De conversa, esconderijo
De rimas, masturbações
Turbulentas - as lembranças
Engessadas em meu cérebro -
Essas quimeras quebradas,
Essas metáforas frágeis,
As fórmulas desgastadas,
As estrofes repetidas,
Estradas sempre trilhadas...
Tinta destile esse tino;
Tela desfalque essa falta;
Forma deforme essa força;
Ego desgaste esse gozo;
Elo desloque esse calo;
Frase desfrute essa fresta;
Traço destrua essa treva;
Timbre destranque esse trinco;
Fala desfolhe esse laço;
Folha desfaça essa farsa!
Expor apenas poemas
Prematuros, pensamentos
Ainda indefesos, versos
Placentários, sem espíritos,
Sem reflexos, para quê,
Feito feto cianótico,
Sem choro, quase chocando,
Sem as tais linhas impressas
Do tempo, da gestação,
Sufocado pela pressa
Espessa, por esse sonho
De vir à luz, dando a face
À porrada, à roda-viva,
Enquanto, à tez do papel,
Desesperado, vencido,
Um preguiçoso poeta?
Parafusos soltos, sumo
De conversa, esconderijo
De rimas, masturbações
Turbulentas - as lembranças
Engessadas em meu cérebro -
Essas quimeras quebradas,
Essas metáforas frágeis,
As fórmulas desgastadas,
As estrofes repetidas,
Estradas sempre trilhadas...
Tinta destile esse tino;
Tela desfalque essa falta;
Forma deforme essa força;
Ego desgaste esse gozo;
Elo desloque esse calo;
Frase desfrute essa fresta;
Traço destrua essa treva;
Timbre destranque esse trinco;
Fala desfolhe esse laço;
Folha desfaça essa farsa!
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
sábado, 25 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Testamento"
"Testamento"
Tempo
Passa
Tempo
Pêndulo
Tempo
Plástico
Tempo
Pênsil
Tempo
Prêmio
Tempo
Plácido
Tempo
Prisma
Tempo
Pinto o
Tempo
Pasmo o
Tempo
Pássaro
Tempo a
Pressa o
Tempo
Pondo o
Tempo
Trânsito
Tempo
Trégua
Tempo
Triste
Tempo
Tendo o
Tempo
Traço o
Tempo
Trago o
Tempo
Trapo
Tempo
Tento o
Tempo
Passo a
Passo o
Tempo
Todo
Tempo
Tenso
Tempo
Templo
Túmulo
Tempo
Tudo
Para o
Tempo.
Tempo
Passa
Tempo
Pêndulo
Tempo
Plástico
Tempo
Pênsil
Tempo
Prêmio
Tempo
Plácido
Tempo
Prisma
Tempo
Pinto o
Tempo
Pasmo o
Tempo
Pássaro
Tempo a
Pressa o
Tempo
Pondo o
Tempo
Trânsito
Tempo
Trégua
Tempo
Triste
Tempo
Tendo o
Tempo
Traço o
Tempo
Trago o
Tempo
Trapo
Tempo
Tento o
Tempo
Passo a
Passo o
Tempo
Todo
Tempo
Tenso
Tempo
Templo
Túmulo
Tempo
Tudo
Para o
Tempo.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Adriano Nunes: "R i s c o'
"R i s c o"
E u
V i v o
D e n t r o
D a
C á p s u l a -
T e m p o, a-
T e n t o.
V e n ç o o
M e d o
D e
S e r
Q u e m
M e
P e n s o. O
Q u e
S i n t o e
P e s o, o
Q u e
M i r o e
Q u e r o,
V e r s o. E
T u d o à
P a r t e,
A l t o
P r e ç o
P a g o,
P o r
S e r
U m
B a r d o.
R i s c o e
R e g r a, u m
R i n g u e: e o
 m a g o
R a s g o.
E m
M i m,
O
A t o, i n-
T a c t o
F a z - s e
M á g i c o.
N a
P á g i n a
I n d a
A l v a,
V i n g a a
H o r a
G r á v i d a
D a
V a s t a
D á d i v a,
D a
M é t r i c a
D a
M á x i m a,
S e m p r e,
Q u a n d o
P a s s o
P e l a
P o n t e
D e
S o n h o e
L e v o à
L í n g u a
O
Ê x t a s e e m
Q u e a
L i d a
P o n h o.
E u
V i v o
D e n t r o
D a
C á p s u l a -
T e m p o, a-
T e n t o.
V e n ç o o
M e d o
D e
S e r
Q u e m
M e
P e n s o. O
Q u e
S i n t o e
P e s o, o
Q u e
M i r o e
Q u e r o,
V e r s o. E
T u d o à
P a r t e,
A l t o
P r e ç o
P a g o,
P o r
S e r
U m
B a r d o.
R i s c o e
R e g r a, u m
R i n g u e: e o
 m a g o
R a s g o.
E m
M i m,
O
A t o, i n-
T a c t o
F a z - s e
M á g i c o.
N a
P á g i n a
I n d a
A l v a,
V i n g a a
H o r a
G r á v i d a
D a
V a s t a
D á d i v a,
D a
M é t r i c a
D a
M á x i m a,
S e m p r e,
Q u a n d o
P a s s o
P e l a
P o n t e
D e
S o n h o e
L e v o à
L í n g u a
O
Ê x t a s e e m
Q u e a
L i d a
P o n h o.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Memória"
"Memória"
Volto dos versos
Em convulsão.
Que vultos são
Esses dispersos
Em minha mente?
Que vozes vêm
Varando o além,
Tão de repente,
Amedrontando-me,
Apavorando-me,
Nessa manhã?
Por que não some,
De vez, seu nome,
Ó musa vã?
Poema inédito, postado pelo meu amigo Domingos da Mota em seu belo blog Fogo Maduro em 16/07/2009.
Volto dos versos
Em convulsão.
Que vultos são
Esses dispersos
Em minha mente?
Que vozes vêm
Varando o além,
Tão de repente,
Amedrontando-me,
Apavorando-me,
Nessa manhã?
Por que não some,
De vez, seu nome,
Ó musa vã?
Poema inédito, postado pelo meu amigo Domingos da Mota em seu belo blog Fogo Maduro em 16/07/2009.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
sábado, 18 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Vida"
"Vida"
Vida: quase dada a
Quase tudo, fado
Indeterminado,
Quimera adorada,
Macondo, Eldorado,
Ítaca, Pasárgada,
Mágica emboscada...
Das Moiras, legado
Legítimo, exato,
Quântico ultimato,
Homérica saga
Que mitos esmaga.
Ou que a paz propaga
No último ato.
Vida: quase dada a
Quase tudo, fado
Indeterminado,
Quimera adorada,
Macondo, Eldorado,
Ítaca, Pasárgada,
Mágica emboscada...
Das Moiras, legado
Legítimo, exato,
Quântico ultimato,
Homérica saga
Que mitos esmaga.
Ou que a paz propaga
No último ato.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Incontesti"
"Incontesti"
Compreenda
Que o poema
Sequer pensa
Sequer pesa
Sequer tenta
Ter qualquer
Consciência
Compreenda
Que o poema
Sequer sente
Sequer serve
Sequer segue
Qualquer regra
Ou ciência
Nada deve
Ao papel
Nem ao lápis
Só se impregna
De sanguínea
Prece - o instante -
Tangencia
O infinito
Do que é dito
Nada prova
Nada quer
Nada prega
Tudo traga
Da alegria
Compreenda
Que o poema
Sequer sonha
Sequer sabe
Que quer ser
Sequer é
Vibra apenas
Não tem pressa
Leis dispensa
Não se prende à
Penitência
Do que pode
Ser só, brilha,
Cabe em si.
Compreenda
Que o poema
Sequer pensa
Sequer pesa
Sequer tenta
Ter qualquer
Consciência
Compreenda
Que o poema
Sequer sente
Sequer serve
Sequer segue
Qualquer regra
Ou ciência
Nada deve
Ao papel
Nem ao lápis
Só se impregna
De sanguínea
Prece - o instante -
Tangencia
O infinito
Do que é dito
Nada prova
Nada quer
Nada prega
Tudo traga
Da alegria
Compreenda
Que o poema
Sequer sonha
Sequer sabe
Que quer ser
Sequer é
Vibra apenas
Não tem pressa
Leis dispensa
Não se prende à
Penitência
Do que pode
Ser só, brilha,
Cabe em si.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Qualquer parte" - Para Nelson Ascher
"Qualquer parte" - Para Nelson Ascher
Qualquer ponte
Que me leve
Dessa neve
Para longe
Qualquer pista
Inventiva
Que me sirva
Que me assista
Qualquer traço
Do universo
Que atravesso
Se te abraço
Qualquer beijo
Dessa língua
(Sol do Lácio!)
Só desejo
Qualquer rumo
Qualquer parte
Que me farte
Desse sumo
Qualquer fenda
Qualquer fresta
Que ao que presta
Mais se estenda
Qualquer vida
Que me lace
Qualquer face
Concebida
Qualquer trilha
Que me trague
Que me afague
Porque brilha.
Qualquer ponte
Que me leve
Dessa neve
Para longe
Qualquer pista
Inventiva
Que me sirva
Que me assista
Qualquer traço
Do universo
Que atravesso
Se te abraço
Qualquer beijo
Dessa língua
(Sol do Lácio!)
Só desejo
Qualquer rumo
Qualquer parte
Que me farte
Desse sumo
Qualquer fenda
Qualquer fresta
Que ao que presta
Mais se estenda
Qualquer vida
Que me lace
Qualquer face
Concebida
Qualquer trilha
Que me trague
Que me afague
Porque brilha.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
terça-feira, 7 de julho de 2009
domingo, 5 de julho de 2009
Adriano Nunes: "Calos" - Para Marlos Barros
"Calos" - Para Marlos Barros
"A kiss may ruin a human life." -- In “A Woman of No Importance”
Oscar Wilde
Essas gretas construo
Com todos os meus gritos
E concretos de lágrimas,
Laringes de grafite,
Pranto, prece, papéis...
Que importam para mim
Os túneis sob as trevas?
Por que neles adentro,
Com medo? Por que em tudo
Trago o triste lembrar
De inúmeros tropeços?
Feito cego, de pedras,
De quedas, com os braços,
Por que me desvencilho?
Por que não me protejo
Do susto insuportável?
Por que nunca me lanço,
De vez, a todo risco,
À vasta vida? Nada
É possível querer?
Sonhos... Eis a metáfora
Que mui me ilude e fere-me,
Que me ilumina e forja-me,
Eis alma, seiva e carne,
Despidas, desgastadas,
Entre tantas promessas,
Momentos e mancadas,
Dentro do labirinto
De palavras, sentidos,
De itinerários íntimos.
Por que não me refiz
Co' a alegria do encontro
Co' a métrica, co' o ritmo,
Quando estive sozinho,
Perdido, entregue às rimas,
À imensidão dos versos,
Entre as estalactites
De ferro dos acervos
Das livrarias todas,
Entre os fungos e os ácaros,
Ante as estalagmites
Das divisas dos sebos?
Quantos mundos busquei,
Quanto alimento e alívio,
Em segredo, sob sonos,
Consumindo-me, vivo,
Escavando um abismo
Sem fronteiras, infindo!
Meu ser em tudo pus,
Em tudo me finquei...
Supus-me assim Proteu.
Acreditei na forma in-
Alcançável do tempo,
No silêncio de Sísifo.
Amei o amor e quis
Fechar-me nos exílios
Dos impulsos, da angústia.
Afastei-me de mim...
Posso agora explodir:
Sou a faísca e a pólvora.
"A kiss may ruin a human life." -- In “A Woman of No Importance”
Oscar Wilde
Essas gretas construo
Com todos os meus gritos
E concretos de lágrimas,
Laringes de grafite,
Pranto, prece, papéis...
Que importam para mim
Os túneis sob as trevas?
Por que neles adentro,
Com medo? Por que em tudo
Trago o triste lembrar
De inúmeros tropeços?
Feito cego, de pedras,
De quedas, com os braços,
Por que me desvencilho?
Por que não me protejo
Do susto insuportável?
Por que nunca me lanço,
De vez, a todo risco,
À vasta vida? Nada
É possível querer?
Sonhos... Eis a metáfora
Que mui me ilude e fere-me,
Que me ilumina e forja-me,
Eis alma, seiva e carne,
Despidas, desgastadas,
Entre tantas promessas,
Momentos e mancadas,
Dentro do labirinto
De palavras, sentidos,
De itinerários íntimos.
Por que não me refiz
Co' a alegria do encontro
Co' a métrica, co' o ritmo,
Quando estive sozinho,
Perdido, entregue às rimas,
À imensidão dos versos,
Entre as estalactites
De ferro dos acervos
Das livrarias todas,
Entre os fungos e os ácaros,
Ante as estalagmites
Das divisas dos sebos?
Quantos mundos busquei,
Quanto alimento e alívio,
Em segredo, sob sonos,
Consumindo-me, vivo,
Escavando um abismo
Sem fronteiras, infindo!
Meu ser em tudo pus,
Em tudo me finquei...
Supus-me assim Proteu.
Acreditei na forma in-
Alcançável do tempo,
No silêncio de Sísifo.
Amei o amor e quis
Fechar-me nos exílios
Dos impulsos, da angústia.
Afastei-me de mim...
Posso agora explodir:
Sou a faísca e a pólvora.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
Assinar:
Postagens (Atom)