segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Adriano Nunes: "Solilóquio"

"Solilóquio"


Sempre tive medo de saber-me
Inteiramente.
Primeiro, porque não sei
Quantos em mim há.
E se houver tantos que têm
Medo do que me sinto e penso?
E se, em meio aos outros de mim,
Eu me descobrir como um outro
Que não me reconhece?
E, ao saber-me todo, de que isto me serve?
Será que me tornaria mais leve?
Ao ser-me sem saber quem sou,
Sinto a madrugada esvair-se aos poucos.
Ser é ter fim?
Ah, metâmeros de meros sentidos!
Sempre tive medo de dar-me a espelhos.
Seria a imagem de silício e silêncios
A parte de mim que me reclama,
Que clama por mim, que se estende
Do olhar às sístoles e diástoles
Da alegria sem fim?


Adriano Nunes

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