sexta-feira, 25 de maio de 2018

Adriano Nunes: "À porta do mar"

"À porta do mar"


Cheguei muito cedo àquele lugar.
Se havia algo de mim, se ainda há
Não sei. Só sei que os meus olhos fincaram-se
Na imagem potente - a densa alegria -
Da qual já não mais me posso afastar.
Pus esperanças e os risos à revelia, e a
Paisagem intacta mundos me oferecia.
Ah, dizem que sou o arauto dos desolados,
Dos que estão feridos, dos que só são.
Ah, ser é tão perigoso e até mesmo em vão!
Dizem isto, mas riem porque, de fato,
Não acham que sou. Mas a paisagem também
Parece que falava e, quem sabe, por isso
Estou nela, e ela está em mim, como se
Fincássemos presos a um labirinto íntimo.
Não sabemos quando a saudade arde e vem!
À porta do mar, falar-te de amor, cantar-te
Em amor, eu quis, como têm feito os poetas.
Ah, amplidão de sentidos, ilusão estética!
A seguir, deixei que a água os meus pés roçasse -
Porque quis sentir tato líquido, suave.
Quis gritar que te amava, ó proeza sináptica!
Quis romper os meus horizontes de desejos
E quânticos signos. Estava, ali, na praia,
Vendo o ir-e-vir das ondas e das gaivotas
Que mergulhavam no ar da manhã, daquela
Manhã, prima vez em que uma grã tela
De assombros e sóis pintei em minh'alma.

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