domingo, 31 de janeiro de 2016

Christina Rossetti: "At Last" (Tradução de Adriano Nunes)

"Enfim" (Tradução de Adriano Nunes)



Muitos cantaram de amor raiz de desgraça:
Enquanto raiz de alívio é pra minha mente,
Pra o amor que amor gera; graça suficiente
Pra a vida e a morte e que novamente se alça.
Quando a luz do Céu tornar toda coisa clara,
Com seus mistérios o amor claro crescerá;
Nem devemos precisar trazer de além-mar
Saber ou riqueza ou ledice de dor salva.
Amor em nossos limites, amor no peito,
Amor em regra, morar em repouso então,
Cessou para cada busca vital sem fim,
Cessou para cada esforço, mudança e medo:
Amor em regra; - não mais que a melhor porção
Comprada, porém à custa de tudo aqui.



Christina Rossetti: "At Last"



Many have sung of love a root of bane:
While to my mind a root of balm it is,
For love at length breeds love; sufficient bliss
For life and death and rising up again.
Surely when light of Heaven makes all things plain,
Love will grow plain with all its mysteries;
Nor shall we need to fetch from over seas
Wisdom or wealth or pleasure safe from pain.
Love in our borders, love within our heart,
Love all in all, we then shall bide at rest,
Ended for ever life’s unending quest,
Ended for ever effort, change and fear:
Love all in all; —no more that better part
Purchased, but at the cost of all things here.



ROSSETTI, Christina. The Complete Poems. New York: Penguin Classics; Reprint edition (November 1, 2001).

Adriano Nunes: "Espera"

"Espera"


Só a noite traz
A ilusão de paz.

Só a tarde tem
O calor de um bem.

Só a manhã mais
E mais faz-se cais.

Madrugada, quem
Nos meus versos vem?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Em verve e sorte"

"Em verve e sorte"

Noite sem norte.
Tudo se verte
Em verve e sorte.
Choramos ver-te
Em nós: um corte
No ser converte
O amor mais forte
Em foz. Solver-te
Em voz agora,
Grácil Helena,
Dá-nos desejo...
O Aqueu lá fora! -
Do alto, vejo-o
Entregue à pena.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Écloga"

"Écloga"

Esse
Ente
Em
Êxtase:
Eros?

Êxito
E
Eixos -
Ei-lo
Elo.

Egos
Entre
Ecos
E
Ethos...

E
Ele
Era
Esse
Ermo.

Eu -
Essa
Égide
Ébria,
Erros.

Adriano Nunes: "Senão sem fim"

"Senão sem fim"

Com essa humanidade
Imersa em mim,
O que é que faço
Senão sem fim
Amor e arte?
Eis a carne
Dos lírios do Lácio
A sangrar. À parte,
O alvo marfim
Da pétala arde
No latino paço
De anáforas e afins.
Alastrando-se rápido
Sobre o existir, tudo faz-me
Ser um bardo assim.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "De infinito e estética"

"De infinito e estética"

Dizem ser
O alvo do poema
Esse:
Destituir-se

De interesse.
Ser apenas
O que é: poema.
Do fim ao começo.

Não político panfleto
Nem mesmo
Lírico esquema
Para íntimos segredos.

Ora! Mas ao querer
Definir o que
É um poema,
Não se finca em

Símile erro?
Um poema
Não precisa de
Rodeios,

Regras ou rédeas.
É o que é
Quando quer.
Quando não, cessa

A própria chama
De criação.
Eis que estão
À mão quimeras

Mágicas: todas
As táticas de invenção.
De infinito e estética
Seus desejos.



Adriano Nunes: "Lírico arbítrio" - Para Lau Siqueira



"Lírico arbítrio" - Para Lau Siqueira



Na armação pequena,
Mundos múltiplos engendra
O grão do poema.

Adriano Nunes: "Isso, no mínimo" - Para a minha mãe

"Isso, no mínimo" - Para a minha mãe 


Como deixar
Rastro qualquer,
Algum registro
Do que me penso,
Do que me sinto,
Se não me levo
Sempre comigo?

Como abraçar 
Regras do tino,
Malabarismos
Deste destino,
Se não consigo
Ser-me sequer
Dentro do íntimo?

Como buscar
Saída até 
Do labirinto 
Em que me finco,
Pra dar ao verso 
Rimas e ritmo,
Isso, no mínimo?

sábado, 23 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Écloga"

"Écloga"


Este
Ente
Em
Êxtase:
Eros?


Êxito
E
Eixos -
Ei-lo
Elo.

Egos
Entre
Ecos
E
Ethos...

E
Ele
Era
Esse
Ermo.

Eu -
Essa
Égide
Ébria,
Erros.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Kalininka e as coisas todas" - para Roberto Bozzetti

"Kalininka e as coisas todas" - para Roberto Bozzetti


A tarde mesclada de caos e cinza
Faz lembrar Kalininka ainda
Dos sonhos que ela precisa possuir.
A carne está faltando. O gim
Está praticamente no fim.
Não há mais carvão. Só o frio
A corroer tudo que se construiu
De esperança e espírito.
Sobre a velha mesa, ratos riscam
A madeira, desenham o destino
De Kalininka. Falta a água limpa.
Falta pano para manga, e, à míngua,
O cão macérrimo o lodo solícito
Da existência lambe e finca-se
Na porta. Parece esperar o devir.
Parece também querer de Kalininka
Os seus sonhos de estio
E de armário cheio de vinho,
Vozes, vezes, nozes e farinha.
Falta a saída. Uma saída propícia.
Kalininka sonhar demais precisa.
Deita de lado. Mexe-se. Gira.
A cabeça é um rodopio
De caleidoscópicas feridas.
Um sonho não chega. Pisca
Os olhos. Aperta-os. Perdida
Em si, dá-se ao silêncio.
Brinca com a dor de amarelinha.
À varanda caminha.
Falta a gana. A vontade de sair
Até a mais próxima esquina.
Kalininka é do mundo vizinha.
A noite virá forte e faminta.
Ela sabe que a noite virá arisca.
Não há para as ilusões nova tinta.
Não há para os tormentos brilho
Outro. Tudo está por um triz.
Timidamente Kalininka ri.
Falta um corpo e um delírio.
Mas Kalininka forja-se feliz.
Ela sabe bem onde a angústia fica
De tocaia. Esquecera Ítaca
Desde a perigosa despedida
Dos seus afazeres com o lixo.
De suas crenças diz e desdiz
À beira do infinito íntimo.
Kalininka é só isso
E na realidade se abriga.

Adriano Nunes: "Habitus"

"Habitus"


O indivíduo.
A sociedade.
Max & Marx.
Elias, Bourdieu, Durkheim.
Resumos, rasuras, relapsos.
O vasto cosmo dos contatos práticos.
E a noite desfaz-se
Entre conceitos mesclados,
Teorias, teses, estorvos e entraves
De cansadas sinapses
Enquanto o sono invade
Mente, medos, cama e carne.
Rascunhos para alto!
Lençol como fio de Ariadne.
Sentir-me.
Sondar-me.
Sonhar-me.
No ser que sou mais me caço.
O índio vivo.
A símio-similaridade.
Nunca é mesmo tarde.
Estou mesmo atado
Ao quarto?

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Edgar Allan Poe: "To Science"

"À Ciência" (Tradução de Adriano Nunes)



Ciência! Filha lícita da Velha Época!
Quem tudo altera com teu nobre olhar.
Por que agarras-te ao peito do poeta,
Ave, cujas asas, fato a embotar?
Como deve amar-te ou sábia te achar?
Quem não o deixaria em sua lida
Pra tesouros nos céus caros buscar
Bem que voou com asa destemida?
Não arrastaste Diana do carro?
E conduziste a Ninfa da floresta
Pra abrigo achar num astro animado?
Não tiraste a Náiade do riacho,
O Elfo da relva verde, e de mim
Sonho estival do tamarindo abaixo?


Edgar Allan Poe: "To Science"


Science! true daughter of Old Time thou art!
Who alterest all things with thy peering eyes.
Why preyest thou thus upon the poet’s heart,
Vulture, whose wings are dull realities?
How should he love thee? or how deem thee wise?
Who wouldst not leave him in his wandering
To seek for treasure in the jewelled skies,
Albeit he soared with an undaunted wing?
Hast thou not dragged Diana from her car?
And driven the Hamadryad from the wood
To seek a shelter in some happier star?
Hast thou not torn the Naiad from her flood,
The Elfin from the green grass, and from me
The summer dream beneath the tamarind tree?



POE, Edgar Allan. The complete poetry of Edgar Allan Poe. With an introduction by Jay Parini and a new afterword by April Bernard. New York: Signet Classics (Penguin), 2008, p.45.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Astúcia"

"Astúcia"


Se penso
Num pássaro, a
Palavra
Revoa.
Se escrevo
Que há
Canoa e
Mar alto,
A água
Escoa,
A tempo,
Pra os lados,
Pra algum
Recanto
Na página
Em branco.
No entanto,
Se lanço,
Bem rápido,
À prática,
Metáforas
Pra o amor
Dizer
Que marca,
Parece
Que o mundo
Flutua
No íntimo:
Sim, essa
Imagem
Povoa
A carne
Das ruas
Do ritmo
Da arte
Que vale.



domingo, 17 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Textura"

"Textura"


Você 
E eu
Em mim.

Assim
Foi que
Até 

O meu
Ser se
Perdeu.

Nos lábios 
Do intacto 
Lab'rinto,

O íntimo 
Do que
Mais sinto:

Só eu?
Você
Em si

Pra si
Só me
Venceu.

Mas eu
Também 
Venci

A mim.
Deu no
Que deu:

Amor,
Meu bem,
Sem fim!


Hilda Doolittle: "Sea Violet" (Tradução de Adriano Nunes)

"Violeta marinha" (Tradução de Adriano Nunes)


A violeta alva
é cheirosa em seu caule,
a violeta marinha
frágil feito ágata,
repousa de frente pra todo o vento
entre as conchas quebradas
no arenoso banco.

As maiores violetas azuis
vibram na colina,
mas quem mudaria por elas
quem mudaria por essas
de raiz do tipo branco?

Violeta
teu fincar-te é frágil
na borda de arenosa colina,
mas a luz ganhas -
geada, uma estrela fias com tua chama.



Hilda Doolittle: "Sea Violet"


Sea Violet

The white violet
is scented on its stalk,
the sea-violet
fragile as agate,
lies fronting all the wind
among the torn shells
on the sand-bank.

The greater blue violets
flutter on the hill,
but who would change for these
who would change for these
one root of the white sort?

Violet
your grasp is frail
on the edge of the sand-hill,
but you catch the light—
frost, a star edges with its fire.




DOOLITTLE, Hilda. Collected Poems 1912-1944. New York: New Directions; New edition edition (February 17, 1986).

Adriano Nunes: "Amor"

"Amor"


Cada um
Tem o seu
Amor. Eu
Tenho um

Também. Este
Que me veste
De alegria,
Dia a dia:

Arte e estudo.
Nesse abraço
Bem me laço.
Como é tudo!

Cada um
Tem o seu
Bem. O meu?
Qualquer um

Que me leve
A mim serve.
Canto ou carne
De verdade,

Nesta tarde
Tensa. Tara
Só não basta.
Sonho vale!

Arte e estudo -
Quase tudo.
Nesse laço
Mais me faço.

Eis meu mundo
Tão comum,
Tão profundo.
Somos um!

Adriano Nunes: "Aurora"

"Aurora"


Lutamos
Adentro.
Lutamos
Lá fora.

A porta
Do intento
Aberta
Demora.

Um tanto
Estreita,
Saibamos.
Que a escora?

A chance
Primeira
Atesta a
Pletora

Do tempo.
A fresta
Alarga-se
Agora:

Ganhando,
Perdendo,
Lutar
Vambora!

Adriano Nunes: "Rudolph e as gravatas"

"Rudolph e as gravatas"



Rudolph amava ter gravatas.
Como todo homem que amava
Ter gravatas, muitas comprava.
De tons distintos, cores várias.
De algodão e seda importada.
Ah, quantas colecionava!

Rudolph amava ter gravatas,
Porém em nenhuma nó dava
Porque não sabia. Guardava-as
Numas caixas, enfileiradas.
Era a sua empregada Lália 
Quem os nós dava, "nós de alma",

Como falar bem costumava.
Somente Lália tais gravatas
Manuseava. Três a cada
Semana, sempre as mais baratas -
Sempre as do trabalho na fábrica!
Como o olhar de Rudolph brilhava!

Certa noite, cansado já 
Da vida, cansado da fábrica,
Resolveu nós com as gravatas
Dar. Umas às outras, atadas.
Subiu, pensativo, as escadas
Que ao segundo andar levavam.

Deixa despencar uma lágrima.
Será mesmo que Rudolph salta?
Arrependeu-se. Ao olhar para
Suas gravatas amassadas,
Ficou demais triste e com raiva. 
Ah,  culpa de Lália, a empregada!

Rudolph amava ter gravatas.
Como todo homem que amava
Ter gravatas, tantas comprava.
De panos lindos, marcas várias.
Será mesmo que ainda salta?
Como o olhar de Lália brilhava

Quando dava os nós nas gravatas!
Ficou demais triste e sem nada!
Sete e dez. O alarme da fábrica 
Soa alto. As pessoas passam
Apressadas. As chances calam.
Suspenso no ar, Rudolph baila.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Depois" - Para Alberto Lins Caldas

"Depois" - Para Alberto Lins Caldas


Depois
É lápis
À espera
Da folha,
É traço
À espreita
Da norma,
É hora
Que chega e
Conforta.
Colapsos
Sem fim.


Depois
É só
Miragens,
Bobagens,
Sementes.
À margem
De tudo,
A máquina
Do mundo
Da mágica
Do impulso
A rir.


Contido
Por forças,
De forma
Em forma,
Não sei
Se foi
Um sonho
Ou se
Medonho
Portento,
Espanto
Em si.



Silêncio
Adentro
E sóis
De mim.
Lapido
O íntimo,
Sem fim.
E tudo
Depois
Mais sinto.
A porta
Abri.




Adriano Nunes

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Os braços de algum bálsamo"

"Os braços de algum bálsamo"


Ainda que a ilusão
Consuma-me plenamente
E deixe-me cicatrizes de dor e
Desassossego, tudo
Que me penso e sinto leva-me
Para os braços de algum bálsamo
Que definir não consigo.
Por sortimentos do ser procuro!
Mais vale a fundo o infinito
Dos olhares que carrego comigo.
Não mais que riscos íntimos!

Ainda que a miséria impere,
A vida não deixa de ser leve.
Alguma canção e algum livro
Far-me-ão persistir e
Crer nas possibilidades
De um amanhã gratuito,
De um passo contente e urgente.
Vê: agora posso dar-te
Mais do que a minha tensa carne,
As dálias quânticas do jardim
Do amor por tempos únicos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Ao menos, em um verso"

"Ao menos, em um verso"

Às vezes, penso que
As palavras são só minhas.
Assim como o que não há 
Ser só meu imagino.
O ritmo do infinito,
Toda quimera mágica,
Amados abismos íntimos!
Cresci entre velhas caixas
De geladeira e mapas,
Papéis de firma e poeira -
Onde me fiz menino.
Ah, as palavras tão minhas!
Como dói vê-las, sozinhas,
Sem mim, noutros escritos
A sentidos distintos
Dadas, sem que fazer
Eu possa mesmo nada,
Sem que eu possa domá-las,
De novo! Às vezes, tento
Esquecer essas metáforas
De carne e alheamento.
E entro no labirinto
Em que me peso e sinto
Pra ver se a vida dá certo,
Ao menos, em um verso.

Adriano Nunes: "Poesia"

"Poesia"


Encher todo instante
Com tua pele -
Talvez um outro tato me decante.
Encher este canto
Com teu olor -
Talvez fixo olfato me afete tanto.
Encher esta tara
Com tua língua -
Talvez tal paladar outro me faça.
Encher o infinito
Com teu olhar -
Talvez com veraz visão varra isto.
Encher esta lida
Com tua voz -
Talvez áurea audição me permita
Encher a folha alva
Com minha alma -
Talvez tudo sangre e dê mesmo em nada.

Adriano Nunes: "Estratégia"

"Estratégia"


Dói em mim
Esta noite
Que é sem fim.

Qual teu nome,
Questiona-me
O meu âmago.

Qual teu norte,
Interrogam-me
Os meus nervos.

Qual teu nexo,
Interpela-me
Minha pele.

Dói em mim
Esta noite
Que é só ponte.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Bowie"

"Bowie"

Superstar 
Desde já 
Supernova.
Do pop ao rock
Tudo chora.
Ó, leitor,
Pro céu olha,
Agora agora!

Adriano Nunes: "Pétalas de dálias"

"Pétalas de dálias"


Alguns brotam do nada,
Palavra por palavra.

Outros de mim escapam -
Parecem vir de mágica.

Estes colhi da alma,
São pétalas de dálias

Que, súbito, se espalham
Com o vento, na página

Alva. A forma até calha!
O metro e a rima rara

Aos signos amalgamam-se:
Tudo quer chegar a

Engendrar-me, palavra
Por palavra, mais nada.

Adriano Nunes: "Eus outros"

"Eus outros"


Os moldes de mim...
O miolo roto,
O meu sóbrio olho,

O antídoto mor
Pra os sonhos sem fim.
Em comboio, o amor

A compor o cosmo
Totalmente assim:
Cais, caos, coito e afins.

Depois, no jardim,
Dá-me um girassol
Que é bem mais que ouro,

Bem mais que o sol todo.
Bem-me-quer? De novo,
Crisântemo posto

No âmago. Enfim,
O esperado sim
Do corpo: sou outros.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Álea"

"Álea"


Acordo de mim.
O sol, passo a passo,
Qual Sísifo, o alto
Alcança. É assim

Que minh'alma salta
Pra escalada, enfim,
Do nada que é fim
E que o ser devassa,

Com lascívia e lábia,
Labirintos de
Átimos, nós de

De signos. Saída?
Quem a encontrar, guarde-a!
Liberdade é álea.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Adriano Nunes:

"O mar"


O mar
À noite
É só
O mar.

Não há
O verde, 
O azul
Não há. 

Só ar,
O vento
Que passa,
As algas,

Sargaço,
O cheiro
De mar
Que marca. 

Um barco
Parece 
Parado
Estar...

A face
Do amar
Abriga 
O olhar.

E, além
Da água,
Minh'alma
Alarga-se.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "De tudo a máscara"

"De tudo a máscara"


Duas lésbicas assassinadas
Em Ibateguara.
Dessa brutalidade 
Tão pouco se fala.
E o que se fala,
Como será que se fala?
Ah, da maldade a ágil máquina!

Criança indígena degolada.
Ah, como essa atrocidade
Retira de tudo a máscara!
Nem pontos nos is nem aspas.
Nem as desculpas esfarrapadas
Da tolerância forjada.
Mudem a cena, qual mágica,

E vejam como tudo marcha,
Distintamente, com vista ampliada,
Se se trocam os personagens.
Uma criança branca degolada.
Um casal assassinado em casa.
Ah, a igualdade rasa!
Ah, a audácia que disfarça

A inaceitabilidade,
A hipocrisia vasta,
Com engenhosa arte,
E engendra a carnificina educada
Das normas práticas
Que faz a humana carne
Das minorias a mais barata!


Adriano Nunes

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Para Ítaca"

"Para Ítaca"

Estou indo
Para Ítaca.
Onde fica,
Eu não sei.
Mas ainda
Dará tempo

Se você
Quiser mesmo
Ir comigo.
Deixe tudo
Para lá,
Paraísos,

Vida fixa,
Os salários
Atrasados
E mal pagos,
Os poemas
Nos rascunhos

Da ilusão,
As questões
Já pequenas,
Os seus hábitos
De poeta
Sempre em briga

Com a métrica.
Dará tempo
Se você
Tiver dentro
De si sonhos,
Solidão,

E a vontade
De a mão dar-me.
A saudade
Desse mundo
Sem sal, sumo,
Não teremos.

A emoção
Brilha à parte.
Nada é certo,
Nem o verso!
Basta a mão
Entregar-me.

E então vamos
Para Ítaca,
- Nunca é tarde! -
Mesmo sem
Saber onde
Ela fica.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Adriano Nunes: "Teatro" - Para Matheus Nachtergaele

"Teatro" - Para Matheus Nachtergaele


A cortina se erguendo.
Rápido movimento e
Tudo se faz adentro.
Máscaras para o tempo
Do ser que é só invento.
Um espaço pequeno
Em que os sóis atentos
Giram, acontecendo.
Novo ato e o veneno
À mão, outros acenos.
O sonho mais intenso
Corroendo, comendo
O próximo momento.