segunda-feira, 23 de março de 2015

Adriano Nunes: "No que sequer há"

"No que sequer há"


Eu te rasurava.
Eras mar em volta -
A mínima ilha,
Aquela palavra
Que falta, o que o amor
Denota em um gesto
Que foge ao intelecto.
Eu te rabiscava
Enquanto em mim via
Surgir a alegria
De só definir
Teus lapsos a lápis.
Também me buscavas
No que sequer há,
Decerto. Eu não
Sonhava contigo.
Riscos preferia
Correr. Entretanto,
Em mim desenhava-te.
Na alma e na carne.
E eras meu canto,
A alada elegia
Que mais te elegia
O meu coração.
Ah, e o tempo,! o tempo
A borracha a ser
Pôs-se, e, assim, desfez,
Primeiro, o horizonte,
Os barcos ao longe,
A areia engendrada,
As ondas e cada
Imagem aquática.
Por fim, o teu nome.
E tudo apagara
Para que o meu ser,
Com vasto prazer,
A ti inventasse,
Aqui, outra vez.

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