quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Adriano Nunes: "Ao vasto silêncio" - para a minha mãe

"Ao vasto silêncio" - para a minha mãe

Às vezes, encontro-me
A recitar William Shakespeare para as paredes.
Os espelhos, à espreita, esperam
Pelo instante íntimo e solitário.
Outras vezes, de Verlaine embriago-me.
Outras, declamo alto Juan Ramón Jiménez.
E a imaginá-los fico, com seus risos,
Diante do meu sotaque nordestino,
Do meu inglês caipira,
Do meu francês interiorano,
Do meu espanhol sertanejo.
E dou gargalhadas junto com eles -
O amor e os seus assombrosos feixes
Fazendo valer e vingar a vida!
Depois, silenciamos.
Prestamos atenção ao silêncio, ao vasto silêncio
Que tem engendrado Shakespeares, Verlaines, Jiménez.
E boas gargalhadas. O Tudo e o Nada.
E as páginas que já podem ser rasgadas.
Dez para as três da tarde.
A solidão, tão gasta, da casa esvai-se.

Nenhum comentário: