segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Adriano Nunes: "Ó manhã, manhã! "

"Ó manhã, manhã! "


Padece o palácio
de Minos ainda.
Aos poucos se vê
o sol a soletrar
do alto o seu átimo,
entre o emaranhado
da grã trama branco-
azulada de
nuvens e o concreto
de egos espertos.
Eis a dada dádiva,
sem que possa ser
sequer plagiada.
Ó manhã, manhã
igual para tantos!
Perante o teu canto
de esperança, aprontam-se,
sós, Dédalo e Ícaro.
Penas, cordas, cera
forjam a artimanha.
Os olhares brilham.
Um reconhecer
mútuo - o entendimento.
Não atentam para
Átropos que, tendo
à mão a tesoura,
com pressa, procura
o fio da vida
daquele que irá
imergir no mar
sem que nada o salve.
Ó manhã, manhã
igual para Ícaros,
Dédalos, que mescla,
com estranha métrica,
dor e liberdade!



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