sábado, 26 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Proteus"

"Proteus"



Nós dois
Fomos feitos assim,
De vezes, vultos, versos.
Nossos corpos, um fim,
Um par, porto pro outro,

Uma ponte, o ser solto,
Um pouco
Do infinto, voz, íntimo.
Depois,
Gemidos, gastos gestos,


O gozo... 
E nós dois não só fomos 
Nós dois: o mundo todo,
Presunçosos Proteus,
Ante os véus meus e os teus.





sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "O amor foi logo"

"O amor foi logo"



As coisas morrem.
Morrem as coisas 
Velhas e as jovens.
Átropos pode
Dispor do corte

Ao fio, afoita:
A vida é folha
Que o vácuo sopra.
A vida, o agora
Que até consola.

Os olhos podem
Tudo. E as vozes
De todo sonho. 
Os sonhos morrem
Porque são sonhos.

O cosmo morre.
O quando morre.
O verbo morto
Implora por
Doses de amor.

O amor não morre.
Mas como foge
Do amante próprio!
O amor foi logo
Cedinho embora.

O vão da cova
que mais comporta?
Um dia novo
Sem mais desgostos.
Um dia outro...

Por que, ó amor,
Embora foste
Antes da noite
Dos beijos doces,
Da eterna volta?

Não são só sombras?
Não são só sobras?
Nada mais morre?
És a grã sorte? E
Bates a porta.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Para alcançarmo-nos"

"Para alcançarmo-nos"


Apreender o
Outro.
Aceitar o
Instante raro,

Ser 
Sincero, vero.

Compreender
O ver por ser
Sol,
Num ato prático,
Quântico,

Para alcançarmo-nos.

Os seus tentáculos,

No além, que finque
Sempre
A indiferença.
Ao amor, doar-se, 

Pleno.



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Mais" - Para Paulo Sabino

"Mais" - Para Paulo Sabino


Onda. O calor
É  fome, mor-
De tudo, tudo 

Quer, tudo clama.
O verso? O ver-


So entregue à vez,
À voz,  à vida

Deste mistério,
Deste singrante
Segundo: passo

Pra o plano P:
Sonda-me o ser,
Teu nome, cosmo
Familiar,

Ímã-irmão

Do signo aceso,
Brasa da alma
Do agora, ponte.
E o sonho é mais
Adentro e além.


Ponho-me a ver-
Ter todo instante,
Pra que te alcance o
Meu canto quântico,
A poesia.





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Pensando o tempo"

"Pensando o tempo"



Dúvidas,
Dívidas íntimas,
Dores.
Descanso um pouco.
Durmo

Com os Drummonds,
Desmonto o mundo
Que é todo meu. 
Sonho miríades
De sóis e estatísticas,

Pra resgatar-me
Do vácuo vivo
Do coração.
Rasga-se o céu,
Pelo  meu pranto.









sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Ato III: o desassossego"

"Ato III: o desassossego"


Às vezes, invento o
Amor, entre um verso e 
Outro. Às vezes, ouso
Seguir fundo em mim,

Pra verter o mundo
Em signos. Às vezes,
Contento-me com
Pouco, com os riscos

Que assim corro. Às vezes,
Erato me assiste, e
Fulgura o grafite, e
Sonho e surto e sumo.

Adriano Nunes: "O quanto"

"O quanto"


Aviso-te, 
Olvido:
O mote
De Eros
Não era
Um risco

Ao íntimo,
Não era
O início
De um gozo
Amorfo,
Do mofo

De nós,
Tampouco
O ouro
De nós,
O outro
De nós,

Pois éramos
Umbigo
E corpo,
E mais
Que o mito.
O escrito.

E entre 
A dor
E o que 
Ainda 
Só sou,
Emerge

De mim
O sonho
Infindo.
Segui
O passo
No ritmo

Da lira.
A tudo
Meu ser
Fincou-se.
E, súbito,
Senti

Estranha
Saudade,
Qual perda
Na entranha
Do intento,
A foice,

A lei
Da carne
Do tempo.
E olhei
Pra trás.
Pensei:

'Que Hades
Dissera
A mim,
Que importa?
Escuto
Passadas...

Eurídice
Está
Em volta!'
E quando a
Revi,
Bem antes 

De atá-la
À perda
Eterna,
Que ela,
Eurídice,
Tão bela,

Num lance,
Sumisse,
Não pude
Dizer-lhe
O quanto,
Num canto,

Amava-a.
Fumaça
E vácuo
E báratros
E breu.
Agora

A lira
Implora-me:
'Pra frente,
Pra frente,
Orfeu,
Só olha!'









quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Liberdade"

"Liberdade"

E basta dar um basta...
Tanta felicidade
Uma quimera mágica
Não será? E assim arde
Tudo em ser e não tarda.
A vida age intacta.







sábado, 5 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "O amor"

"O amor"

Declaro-o:
Pássaro perdido.
Conheci o

Amor
Entre mentiras e
Riscos.
Não esse
Conto de fadas
Dos livros,

O amor infinito
Que já fora demais
Definido,


O amor que é
Mais que tudo:
Corpo,
Alma, qualquer
Coisa pensada.
Ou isso.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "O verso de um amor só"

"O verso de um amor só"

Feito feitiço o amor veio.
A casa ficou de um jeito
Que o embaraço foi perfeito...
O amor veio via emeio.

Sem desculpas, o desejo
Entregou-se pleno, inteiro
- Era mesmo o amor primeiro! -
À luz de tudo que almejo.

A vida? Tem endereço
Preciso agora. Em meu peito,
Outro coração é feito
Do versos que te ofereço.




quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Adriano Nunes: "Soneto V"

"Soneto V"



Todo risco corro
Enquanto me solto
Do que sou. Revolto,
Peço-te socorro.

Será novo sonho
Ou o fundo do poço?
Meu coração ouço...
A que me proponho

Se viver é pouco?
Ao mundo?, O arcabouço
Que nunca está pronto

Pra tudo. Em que ponto
De fuga (inda tonto,
escrevo...) sou outro?