segunda-feira, 1 de março de 2010

Adriano Nunes: "Que somos nós dois agora?"

"Que somos nós dois agora?"


Que somos nós dois agora
Ante o instante deste amor?
Que somos, ó verso, agora
Ante o que sequer mais volta?

Que somos nós dois agora,
Depois de desmascarada 
A alma? Quanto  nos sobra 
Depois de tanta porrada 

Na cara? Que somos nós 
Dois agora, nesta noite 
Alta, Co' o efeito ilusório 
Dos ansiolíticos, dos 

Infinitos ingeridos,
De vez? Que somos nós dois
Agora, ante o navio 
Que parte,  a fome que dói

O fogo que se propaga?
Que somos nós dois agora,
Enquanto te rapto em mim, 
Em busca do tudo ou nada?

Que somos nós dois agora,
Entre os remorsos e as dúvidas?
Que somos nós dois agora
Ante o sentido rasgado, 

Pelo amante distraído, o
Poeta  pronto pra o olvido,
Sem graça, a ver o que passa
Pela vidraça do ser,

Diante de grãs quimeras?
Que somos nós dois agora,
Por pesar mundos lá fora,
Por querer, e mais querer? 











Um comentário:

Janaina Amado disse...

Adriano, li este seu poema no Cícero, e vim aqui lhe dizer que o achei emocionante - é um poema maior, desses que ficam. Parabéns.