"Sob a mira de Tétis. Enfim,"
Naquele dia, fui convidado
Às pressas. Era a célebre festa
Do pensamento. Agora me resta
Apenas o tempo consumado
Entre a descoberta e o devaneio.
Que espetáculo! Que algaravia!
E o porvir quem imaginaria?
Ó, por Zeus! De viés, Éris veio
E lançou-se, em segredo, à babel.
Penetra, esquecida, nem aí,
Com um presente - E como sorri! -
Para a deusa mais bela e fiel.
Aquele pomo era para mim,
Refleti. Todos em um só flerte:
É meu! Sim, sou eu, disse Deméter
Sob a mira de Tétis. Enfim,
Olho por olho, dente por dente.
Afrodite cobiça com graça
A peça rara. Até Hera laça
À vista o tesouro reluzente.
Combina com a tez de Atená,
Alguns disseram. Eu quero! Quero
Essa joia! Juraram por Eros,
Enquanto ela irradiava lá.
Bradava Zeus: Onde estará Hermes,
Nessas horas? Que é que irei fazer,
Se nada posso? Dê-me o prazer
Da presença de Páris! - Que queres,
Mestre dos raios? Já entre nós
Encontra-se o rapace rapaz
Para ser da decisão capaz
E, em discórdia, deixar-nos a sós.
Legitima Afrodite a mais bela
E lança, à tez do sentir, desgosto
Em quase todos: Almeja o posto
De esposo de Helena, apenas dela.
E o porvir quem imaginaria?
Éris partira... Nem aí
Pra a guerra que poderia advir...
Sem presente, com grave alegria.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
Adriano Nunes: "Para criar um tempo diverso"
"Para criar um tempo diverso"
Aquela palavra faltava
Pra criar um tempo diverso.
Sangrava a vez de vivo verso:
Corte fundo na veia cava
Do mundo mágico de um vate.
De que valeria a alegria
Se nada mesmo vingaria
Fora do papel? Que a resgate
A procura infinda na Língua!
Página a página, sem medo,
Sem temer o porvir, à míngua,
Fugir de todo labirinto
Da dúvida e perguntar: Cedo,
Às pressas, ao que apenas sinto?
Adriano Nunes.
Aquela palavra faltava
Pra criar um tempo diverso.
Sangrava a vez de vivo verso:
Corte fundo na veia cava
Do mundo mágico de um vate.
De que valeria a alegria
Se nada mesmo vingaria
Fora do papel? Que a resgate
A procura infinda na Língua!
Página a página, sem medo,
Sem temer o porvir, à míngua,
Fugir de todo labirinto
Da dúvida e perguntar: Cedo,
Às pressas, ao que apenas sinto?
Adriano Nunes.
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "Nessas horas fugazes"
"Nessas horas fugazes"
Meu tempo: O momento
Agora. Não me aguento
Nessas horas fugazes.
Como fazer as pazes
Comigo, enquanto só,
Do instante, resta o pó?
Meu tempo: O momento
Agora. Não me aguento
Nessas horas fugazes.
Como fazer as pazes
Comigo, enquanto só,
Do instante, resta o pó?
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Adriano Nunes: "Em cada imagem criada"
"Em cada imagem criada"
Vinga a alegria do vate
Em cada imagem criada.
É revelada a palavra
À tez da memória, à margem
De sombras, leitura e espanto,
Feito insólito espetáculo,
Ante um sonho relembrado.
O seu tempo é mesmo vasto
E não marca o mero instante
De fuga: Só há a vontade
De o pensamento abrigar
Em signos, significados,
- Mágica festa sináptica -
À revelia do acaso.
Verso, do que sois capaz?
Como nos determinais?
Servos da contemplação,
Dos ritmos, somos, vassalos
Dessa arquitetura abstrata,
Dessa perigosa estrada
Construída de esperança
E mais... Ó bardos amados,
Sobre o infinito em nós haja
Pra sempre a nossa canção
Às grãs Musas! Salve! Salve!
À bruta felicidade!
Assim, estaremos salvos
Do abismo da folha em branco.
Vinga a alegria do vate
Em cada imagem criada.
É revelada a palavra
À tez da memória, à margem
De sombras, leitura e espanto,
Feito insólito espetáculo,
Ante um sonho relembrado.
O seu tempo é mesmo vasto
E não marca o mero instante
De fuga: Só há a vontade
De o pensamento abrigar
Em signos, significados,
- Mágica festa sináptica -
À revelia do acaso.
Verso, do que sois capaz?
Como nos determinais?
Servos da contemplação,
Dos ritmos, somos, vassalos
Dessa arquitetura abstrata,
Dessa perigosa estrada
Construída de esperança
E mais... Ó bardos amados,
Sobre o infinito em nós haja
Pra sempre a nossa canção
Às grãs Musas! Salve! Salve!
À bruta felicidade!
Assim, estaremos salvos
Do abismo da folha em branco.
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "Do amor para assim entender"
"Do amor para assim entender"
Do amor, que se pode dizer
Se dito fora mesmo tudo,
Se quem ama fica até mudo
Ante magnânimo prazer?
Do amor, que se pode querer
Se querendo nada se tem,
Se tendo não há nenhum bem
De fato? É somente morrer
De amor para enfim entender
A falha de qualquer remédio:
Não calha a melhora do objeto,
Tempo, sequer o faz temer,
Ausência, nunca o torna ausente,
Ingratidão, é que não sente!
Do amor, que se pode dizer
Se dito fora mesmo tudo,
Se quem ama fica até mudo
Ante magnânimo prazer?
Do amor, que se pode querer
Se querendo nada se tem,
Se tendo não há nenhum bem
De fato? É somente morrer
De amor para enfim entender
A falha de qualquer remédio:
Não calha a melhora do objeto,
Tempo, sequer o faz temer,
Ausência, nunca o torna ausente,
Ingratidão, é que não sente!
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "De um amor além"
"De uma amor além"
Agarro-me agora
À grande alegria.
Aguardo: daria
Gozo à vida, fora
O amálgama forte
Dessa intensa luz.
(Em que tempo pus
O temor da morte?)
Aguento o momento
Em que só me invento:
(Jogo o mesmo dado
De volta ao passado)
Pasmo! Amo alguém
De um amor além.
Agarro-me agora
À grande alegria.
Aguardo: daria
Gozo à vida, fora
O amálgama forte
Dessa intensa luz.
(Em que tempo pus
O temor da morte?)
Aguento o momento
Em que só me invento:
(Jogo o mesmo dado
De volta ao passado)
Pasmo! Amo alguém
De um amor além.
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domingo, 13 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "Ante do infinito o pó"
"Ante do infinito o pó"
Entre as ilusões, transito,
Muitas vezes. Vivo o rito
De ser quem só sou, mas só
Fixo n'alma um frouxo nó.
Em outro momento, admito
Ser isso um íntimo mito,
Ante do infinito o pó,
Tal um lance de dominó.
Depois, o sonho me agrada
- Não sei ter outra alegria -
E assim sigo pela estrada
Do nada. Dia após dia,
Frágil, minha efígie brada:
Ter máscaras me entendia!
Entre as ilusões, transito,
Muitas vezes. Vivo o rito
De ser quem só sou, mas só
Fixo n'alma um frouxo nó.
Em outro momento, admito
Ser isso um íntimo mito,
Ante do infinito o pó,
Tal um lance de dominó.
Depois, o sonho me agrada
- Não sei ter outra alegria -
E assim sigo pela estrada
Do nada. Dia após dia,
Frágil, minha efígie brada:
Ter máscaras me entendia!
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ADRIANO NUNES: "Apontamento" - Para Antonio Cicero
"Apontamento" - Para Antonio Cicero
Claro que um poeta não pode
Prometer a quem quer que seja
O seu pensar numa bandeja
Nem seu cosmo servir em ode.
Com sorte, nada possa mesmo
A não ser se deixar, à leva
De grácil tentação, qual Eva
E Pandora, sentir, e, a esmo,
Sucumbir a todo desejo.
Mas para quê? Para que tanto,
Se se forja o enigma, em seu canto,
Ante o olvido, em um só lampejo,
Para iluminar toda a vida
Co' amor, decerto? Assim, o verso
Vinga e em si permanece imerso,
E, liberto, ilusões lapida.
Claro que um poeta não pode
Prometer a quem quer que seja
O seu pensar numa bandeja
Nem seu cosmo servir em ode.
Com sorte, nada possa mesmo
A não ser se deixar, à leva
De grácil tentação, qual Eva
E Pandora, sentir, e, a esmo,
Sucumbir a todo desejo.
Mas para quê? Para que tanto,
Se se forja o enigma, em seu canto,
Ante o olvido, em um só lampejo,
Para iluminar toda a vida
Co' amor, decerto? Assim, o verso
Vinga e em si permanece imerso,
E, liberto, ilusões lapida.
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ADRIANO NUNES: "O que não seria" - Para Vivianne Accioly.
"O que não seria" - Para Vivianne Accioly.
É quase silêncio
O que vivencio.
É quase saudade
Isso que em mim arde.
É quase um tormento
O que agora aguento.
É mais que alegria,
- O que não seria,
Se eu me desse ao sonho? -
O que aqui suponho:
É outra ilusão
Em meu coração.
É quase silêncio
O que vivencio.
É quase saudade
Isso que em mim arde.
É quase um tormento
O que agora aguento.
É mais que alegria,
- O que não seria,
Se eu me desse ao sonho? -
O que aqui suponho:
É outra ilusão
Em meu coração.
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sábado, 12 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "Instante"
"Instante"
O passado deixei
De lado, numa caixa
Lacrada, na memória.
Agora a minha vida
Vale o momento. Tudo
Só me alegra, é sem fim.
Apenas outro sonho
Vinga dentro de mim.
Pra que vir o porvir?
O passado deixei
De lado, numa caixa
Lacrada, na memória.
Agora a minha vida
Vale o momento. Tudo
Só me alegra, é sem fim.
Apenas outro sonho
Vinga dentro de mim.
Pra que vir o porvir?
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "O meu mundo"
"O meu mundo"
Um quarto. Sim, meu quarto,
Onde em mim me recolho,
Onde só fecho um olho,
D'onde pra o existir parto.
Meu mundo. Sim, meu mundo
Pequeno, quase um cofre.
Lá fora, meu ser sofre:
Tudo é sempre profundo!
Às vezes, sonho e choro.
Que querer dessa selva
De pedra? Por qual poro
Posso fugir, sem medo?
Que saída me salva?
Que porta a mim concedo?
Um quarto. Sim, meu quarto,
Onde em mim me recolho,
Onde só fecho um olho,
D'onde pra o existir parto.
Meu mundo. Sim, meu mundo
Pequeno, quase um cofre.
Lá fora, meu ser sofre:
Tudo é sempre profundo!
Às vezes, sonho e choro.
Que querer dessa selva
De pedra? Por qual poro
Posso fugir, sem medo?
Que saída me salva?
Que porta a mim concedo?
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ADRIANO NUNES: "O crepúsculo dado"
"O crepúsculo dado"
Aceito ser escravo
Desses versos que faço.
Da vida fiz um laço
Feliz. Assim me salvo
Do salto para a morte.
O cosmo todo noto
Focar-se em mim: Só foto-
Grafo o fim (traço forte
Do labor sobre-humano)
O crepúsculo dado
Aos ídolos, tutano
Do ser demasiado.
Humano por humano,
Um deus desmascarado.
Aceito ser escravo
Desses versos que faço.
Da vida fiz um laço
Feliz. Assim me salvo
Do salto para a morte.
O cosmo todo noto
Focar-se em mim: Só foto-
Grafo o fim (traço forte
Do labor sobre-humano)
O crepúsculo dado
Aos ídolos, tutano
Do ser demasiado.
Humano por humano,
Um deus desmascarado.
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "Confortam-me as ondas" - Para Antonio Cicero.
"Confortam-me as ondas" - Para Antonio Cicero.
Saudade do mar,
Dessa vida aberta
A todo horizonte,
Dessa vista atenta
A tudo: Sereias,
Surfistas, faróis.
Confortam-me as ondas
Das rádios, ruídos
De sirenes, rastros
De seres que passam.
Que agora se diga
Do gosto de sal
À língua: que fiz
Dos versos na areia
Da praia do sonho?
Saudade do mar,
Dessa vida aberta
A todo horizonte,
Dessa vista atenta
A tudo: Sereias,
Surfistas, faróis.
Confortam-me as ondas
Das rádios, ruídos
De sirenes, rastros
De seres que passam.
Que agora se diga
Do gosto de sal
À língua: que fiz
Dos versos na areia
Da praia do sonho?
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domingo, 6 de dezembro de 2009
ADRIANO NUNES: "Inter (esse) dito" - Para Mariano.
"Inter (esse) dito" - Para Mariano.
Esse verso corte
Esse, ainda não
Esse, sobre morte
Esse, coração
Esse quase cala
Esse quase vinga
Esse se fez fala
Esse, feito pinga
Esse me embebeda
Esse me atormenta
Esse à tez da queda
Esse, mágoa benta
Esse a si procura
Esse não é nada
Esse, só loucura
Esse, que mancada
Esse, sempre assim
Esse, redondilha
Esse calhe em mim
Esse um dia brilha.
Esse verso corte
Esse, ainda não
Esse, sobre morte
Esse, coração
Esse quase cala
Esse quase vinga
Esse se fez fala
Esse, feito pinga
Esse me embebeda
Esse me atormenta
Esse à tez da queda
Esse, mágoa benta
Esse a si procura
Esse não é nada
Esse, só loucura
Esse, que mancada
Esse, sempre assim
Esse, redondilha
Esse calhe em mim
Esse um dia brilha.
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