quinta-feira, 10 de março de 2016

Adriano Nunes: "Outros escombros"

"Outros escombros"


Fala-me a lei
Do amor que eu,
Cego, falhei.
Calou-me Urânia
Pra que escutasse
A voz suave
Da grã Calíope.
Deu no que deu.
E, quão doeu,
Fundo, na entranha
Do que é possível.
Mas não só isso!
E com Terpsícore
Dancei, dancei!
Metros e marcas
De selo d'água
Pra cada mágoa e...
Pisei no pé
Quebrado da
Pobre Polímnia!
E agora, e agora?
Resta de mim
Um quase corpo,
Sem fim ou forma.
Sem nume ou nome,
Métrica mínima.
Dá-me, Melpômene,
Máscaras outras!
A voz já rouca.
A pele, toda
Já mesmo solta
Da carne, pouco
A pouco, cede
Ao tato. Enfim,
Quase nem alma
Resta, só a
Parte que soa,
A repetir
Que só sou o
Que me povoa.
Que faço, Euterpe?
Este menino
Triste e ferido
Por infinitos,
A ti não serve?
Não resta nada.
Perdão, ó Tália!
Vejo que vou
Baixar a guarda
Para ver se a
Chance me afaga
Sem farpas. Basta
Saber da dor
Que me engendrou
Enquanto tudo
Era esperança
Em um futuro
Que sequer chega
- Nem à cabeça! -
E ao caos me lança.
Ah, por um fio
Tanto ficou,
Para quê, Clio?
Não resta mesmo
Matéria alguma.
Somente o rápido
Instante de
Sonhar, de novo,
Com tua lira,
Deixa-me, Erato,
Ter outra vez.
Alegre gozo
Sem fim que verte
A vida em elos
De acertos e
Erros, desejos,
Pathos & Ethos.

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