domingo, 17 de novembro de 2013

Adriano Nunes: "À semelhança de um conceito"

"À semelhança de um conceito"



Porque provaram existir o amor,
Todos passaram a cumprimentar-se,
Num sincronismo alegórico, até
Mesmo tedioso, mas era a festa
Do amor e seu magno império de luz.

Os jornais declaravam: não é farsa
Nem ilusão, vive-se o impressionante
Tempo da Ciência, tudo está à prova!
Depois, por analogia, provaram
Haver deuses, o além, o aquém, etês.

E ergueram monumentos, grãs estátuas,
O íntimo ordenaram, pelas  leis
Da igualdade dogmática criaram
Cartilhas destinadas a moldar
Todos à semelhança de um conceito

Que fora proclamado por miríades
De seres que se afirmavam eleitos,
Os membros da amórfica maioria.
Como robôs feitos em série, eram
Símiles: roupas, gestos e pensar,

Cantavam a existência incontestada
De tudo e não sabiam que eram máquinas.
À mercê da astúcia, da adequação,
Era vital ser igual, dar-se à máscara
Das quânticas quimeras, porque estava 

Provado que o ser humano existia.
Queimavam  rebeldes, pela igualdade!
Os livros recolhiam, pela igualdade!
A opressão, a exclusão, pela igualdade!
A miséria, a morte, pela igualdade!








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