sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Quéops" - Para Augusto de Campos

"Quéops" - Para Augusto de Campos 


P
ED
RAS
OBRE
PEDRA
SOBOSO
LDODESE
RTOAPIRÂ

MIDEDESPR
ENDESEDESI
EDISPERSASE

Adriano Nunes: "Que a tudo resiste" - Para a minha mãe

"Que a tudo resiste" - Para a minha mãe



Não quer ser livre,
Plenamente livre,
Coração? Então pare
De pensar 
Que a tudo resiste.

Ó coração,
Bata, bata,

Pancada por pancada,
Em seu ritmo de

Tudo ou nada,

À fala, não mais me faça

Fundir-me, 
Infiltrar-me

Nas entranhas, na carne
De qualquer palavra.

Por que insiste
Em impregnar, de alma
E corpo, o amor, não
Basta o detalhe
De sabê-lo íntimo,


Infinito,

Disposto ao que for,
Tê-lo apenas como amor,
A Esfinge
Que em mim se abrigou?

Ó coração,
Dispare,
Pele e músculos rasgue,
Os ossos quebre, salte
Dessa gaiola torácica,


Sem alarde,
Não se reserve,
Não quer ser livre?
Pare de pensar
Que a tudo resiste!





quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Nicanor Parra: "Me retracto de todo lo dicho"

"ME RETRACTO DE TODO LO DICHO" - Nicanor Parra


Antes de despedirme 
Tengo derecho a un último deseo: 
Generoso lector 
...................... quema este libro 
No representa lo que quise decir
A pesar de que fue escrito con sangre 
No representa lo que quise decir.

Mi situación no puede ser más triste
Fui derrotado por mi propia sombra:
Las palabras se vengaron de mí.

Perdóname lector
Amistoso lector
Que no me pueda despedir de ti
Con un abrazo fiel:
Me despido de ti
con una triste sonrisa forzada.

Puede que yo no sea más que eso
pero oye mi última palabra:
Me retracto de todo lo dicho.
Con la mayor amargura del mundo
Me retracto de todo lo que he dicho.




"ME RETRATO DE TUDO DITO" (Tradução de Adriano Nunes)




Antes de despedir-me
Tenho direito a um último desejo:
Generoso leitor
...................... queima este livro
Não representa o que quis dizer
Apesar de que foi escrito com sangue
Não representa o que quis dizer.

Minha situação não pode ser mais triste
Fui derrotado pela própria sombra:
As palavras se vingaram de mim.

Perdoa-me leitor
Amistoso leitor
Que não me posso despedir de ti
Com um abraço fiel:
Me despeço de ti
Com um triste sorriso forçado.

Pode ser que eu não seja mais que isso
Mas ouve minha última palavra:
Me retrato de tudo dito.
Com a maior amargura do mundo
Me retrato de tudo que havia dito.

*Poema originalmente publicado no site da Universidad de Chile. (http://www.nicanorparra.uchile.cl/antologia/indexpoemas.html.)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Este amor"

"Este amor"


Não foi preciso
Encarcerar-me em
Um labirinto
Íntimo, não
Mesmo. Este amor
Sabe a que veio.

Não foi possível

Desvencilhar-me
Do que me sinto,
Do coração.
Não mesmo. O amor
Tem lá seu meio.

E, sem alarde,
Se aprofundou
Em meu ser, digo,
Em meu viver,
Tornando-o digno.
Não podes ver?

Adriano Nunes: "Para os que estão em casa" - para Dulce Quental

"Para os que estão em casa" - para Dulce Quental



Cheguei quieto como quem chega
Pedindo informação. Cheguei 

Até mais perto e sequer vi 
Que tudo é sempre a mesma coisa
Quando se quer ter qualquer coisa,
Qualquer uma. Cheguei sem malas, 


Coração dado à expectativa,
Ao meio, assim, como quem busca 

Sentido, paraíso ou íntimos
Infinitos. Abriguei em mim
Uns planos e, sem esperar 

Por devir, dei-me ao inesperado. 

um sorriso veio. Pra tudo.
Parti mais estranho que, quando 

Compondo, era um outro no quarto.
Dizem, além, que estou amando,
E que todo o amor passa rápido.
Cheguei sem as mágoas da fala,


Vida no cio da vida, dessa 

Vida a pôr poeira nos sonhos
E, em mim, sinceridade. A noite 

Despencou entre as frágeis frases
De alguns letreiros luminosos.
Dizem que estou amando, e que


O amor passa tal meteoro.

Adriano Nunes: "Esta poesía"

"Esta poesía"


Una vez yo quise saber si
Yo era capaz de bien decir
Para ti, todo lo más que mi
Corazón sentía. (!Yo sabía!)

¿Qué más puedo querer todavía?
¿Qué más de todo puedo querer?
Y de repente, (¿Tan de repente?)
Una fiesta, mágica alegría,


El regalo de dar a tu ser 

Esta poesía.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Áureo minério" - Para Lidia Chaib e Péricles Cavalcanti

"Áureo minério" - Para Lidia Chaib e Péricles Cavalcanti



Não há mistério
Algum. Receio
Haver um meio

Só, mas é sério,

Não há mistério
Algum. E sei-o
Bem: devaneio
De haver mistério.

Assim o amor
- E o que mais for
Além do amor -

É sem mistério,
É sem rodeio:
Áureo minério.

Adriano Nunes: "sem precisar de uma palavra"

"sem precisar de uma palavra"


e, além, os fenícios, as fendas
da fala, a ferrugem intacta
do que se foi, do que seria
se existisse mesmo a alegria

de, através de desenhos, signos,
símbolos, letras e caracteres
diversos, entregar-te os sonhos

todos, de uma só vez, pra sempre,

e, pra sempre, fincar-me à tez
da existência, por muito amar-te.
mas são só sombras e silêncios

de grafite, todo o mistério
de haver amor, de amar o amor,
sem precisar de uma palavra.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Sumo"

"Sumo"


Amar-te,
Grã sorte 
Ou arte,

Quem sabe?

O certo
É que
Estou
Imerso

Em ti,

Ó verso,
No que
Mais vale.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Bem mais" - para Adriana Calcanhotto

"Bem mais" - para Adriana Calcanhotto


Meu bem,
Agora 

Agarro o
Amor,
E nada 

Lá fora
Importa.


Aqui,
O sumo

Do âmago
Que jorra,
O verso 

Que vinga,
A música 


Tomando a
Memória,
Bandeira,

Cabral 
E Brossa,
O amor

Por Lorca.

Agora 

Aguardo o
Que for
Preciso, 

Sentidos,
Os sonhos,

As sobras, 

Os signos, 
As sombras, 
As somas,
As rimas, 

Os riscos, 
Os rastros,
As rotas.





Adriano Nunes: "Bem mais" - para José Mariano Filho

"Bem mais" - para José Mariano Filho


É claro
Que o amor
Agora 

É algo 
Raríssimo.

Por isso,
Quieto, 

Aqui 
No quarto,
Eu, entre 


Um verso 
E outro, 
Só, pouco 
A pouco o
Agarro.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "No vão sináptico"

"No vão sináptico"



Agora,
Trancado neste grilhão
Doméstico,
Sentindo-me triste e tenso,
Assim
Tendo que estar desse jeito 

Já que 
Nisso o coração persiste,


Insiste,
Lanço-me aos liames do amor
E, entre 

Rabiscos, rasuras, voos,
E lances 
De folhas ao lixo, nítidos,
Perante
Diversos versos alheios,

Tão tímidos
Escritos, sonhos de imagens,
Linguagem
Por nascer, 'inda retidas 
No vão
Do íntimo, é que, de fato,
Quieto, 

Aqui no meu quarto, entendo o

Porquê 

De sempre querer ser livre.

Adriano Nunes: "Mais" - Para Antonio Cicero

"Mais" - Para Antonio Cicero



Antes
O amor
Gota a gota


Algo suave
Verso na memória
Música na vitrola

Que todo esse tesouro

D'ouro e prata, tido importante,
A enfeitar a existência lá fora.

domingo, 12 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Alegria"

‎"Alegria"



Entre o infinito de tudo 

Que precisa ser dito e o
Que em meu âmago abrigo,
Esse desejo explícito
De expandir-me através 

Do que me penso e sinto,
De buscar-me em mim, para

Saber-me sem limites,
Arauto alegre e livre.

sábado, 11 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "tudo ainda"

"tudo ainda"


não basta o sentimento
não basta
não basta o que há por dentro
não basta
não basta o que me penso
não basta

e o coração que bata 

pancada por pancada
e a existência que calhe
e o desejo que me leve
à vida de ser quem sou

e tudo que dói
e tudo que ainda dói
e todas as lamúrias e todos os murmúrios
e todas as queixas e práticas desculpas
e o quanto de tudo pra tudo

não basta
não basta o amor que invento
não basta
não basta outro momento
não basta
não basta vir do centro

tudo de qualquer palavra
ainda que me consuma
ainda que me dilacere
ainda que me regule e
vingue sem dó

ainda
sob a vigília dos frêmitos dos tempos
sob a rotina frágil dos olhos
sob a estratégia fria dos sonhos
sob a malícia dos ecos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Este poema"

"Este poema"



Um poema pode
Desafiar o pensamento,
O tempo,
O que houver adentro,
A morte.

Então, com sorte,
Este poema possa

Alcançar-te, com arte,
O âmago tocar-te,
Entregar-te a boa nova,

Aquela felicidade.
Um poema pode
Inaugurar um sentimento,
O mais intenso,
O mais nobre.

Um poema
Que ainda não pode?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "gravidade" - para Wilson Caritta Lopes

"gravidade" - para Wilson Caritta Lopes


os corpos se atraem
os corpos mais próximos
se atraem os corpos
seu estereótipo
os corpos se traem
o desejo é óbvio

os corpos se atraem

com muito mais força
perto dos dois polos
os corpos se atraem
entre o amor e o ódio
o desejo é móvel

os corpos se atraem
de massas a mais,
se confundem, fundem-se
no próprio propósito
os cosmos chocam-se em
desejos ignotos

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "liame íntimo"

"liame íntimo"

algo me liga
a mim
além do ego
além do âmago
além do espectro
do que compreendo

algo me liga

à minha fala
aquém
ao que me peso
ao que me sinto
além da casca

algo me prende
à minha mente
parece cola,
raro colágeno,
lacre, cimento
por dentro

mas algo foge
ao pensamento...
aquele verso
aquele instante
interessante em
que me conecto

ao que parece
que quero
além da química
além do gosto
além do gesto
tal mágica!

domingo, 5 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "do que quer ser concebido"

                                       "do que quer ser concebido"



                                                                    palavras são para isso,

sim, para inventar
o paraíso.
aprendi
assim
comigo.

prometi tudo
mesmo a mim,
mas menti.
   palavras são para isso,
digo, para desafiar
o íntimo.

pronto.
admito:
 palavras são para isso,
repito, para cantar
o infinito
      do que quer ser concebido.

Adriano Nunes: "detalhe" - para Haroldo de Campos

"detalhe" - para Haroldo de Campos 


p
o r
q u e 
o a m o
r e x p l
i c i t a m
e n t e n o s
e n v o l v e j

á p o d e m o s e
x p u l s a r d a e
x i s t ê n c i a a m
o r t e p o r q u e o a
m o r à e x c e l ê n c i
a d e t u d o n o s d e v o
l v e j á p o d e m o s e x p
l o r a r c o m ê x t a s e o q
u e n o s m o v e p o r q u e o a
m o r n ã o s e e x p l i c a j á p
o d e m o s e x p a n d i r e x p o n
e n c i a l m e n t e t o d a a v i d a

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Adriano Nunes: "Oposto" - Para Ricardo Silvestrin

"Oposto" - Para Ricardo Silvestrin


Dado ao gosto
Alheio,
Não creio
Ser viável
Explicar o porquê
De um verso
Não só dizer
A que veio.


O oposto
De tudo isso
Serve
De mero recheio ou
Devaneio.
( Tal laço
Não será outro
Embaraço


Em que o significado
Sem signo
Caço?)

Adriano Nunes: "De tudo pra tudo, sem volta"

"De tudo pra tudo, sem volta" 


Eles disseram, sim, disseram
Haver mais vida, o paraíso
Entre as frestas frágeis dos sonhos,
O amor, entre as sobras, o amor

Dentro dos silêncios, distante
Dos grilhões de um gesto, mas tudo
Era arquitetar o perímetro

De tudo pra tudo, sem volta,

Entregando ao corpo a vazão
Do instante, porque havia amor
Sobretudo, amor, entre vírgulas,
Entre as trevas dos ecos íntimos.

Eles disseram, sim, disseram
Haver outro sumo, uma ponte
Pra o infinito do que se sente,
Ante os fósseis do eu profundo.

E mentiram. Como mentiram!
Resta pra a carne da alegria
O espanto de não haver nada,
Além dessa bruta lembrança.