sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Adriano Nunes: ‎"às laringes de grafite" - Para Manuel Bandeira

‎"às laringes de grafite" - Para Manuel Bandeira



lanço-me às mil intempéries
do meu âmago, à mobília
disforme, do que me penso.
(como regressar à Ítaca?)

lanço-me a fazer um verso...
que reis não se renderão
às laringes de grafite,
aos silêncios de silício,

à minha ágil solidão,
à vez, sobre a escrivaninha?
que rompante romperá
os vis grilhões do infinito

esculpido na ilusão
de que enfim certo dará
toda essa investida, o sonho?
(como voltar à Macondo?)

quando as pálpebras pesavam,
quando as paredes pulsavam,
quando o impossível pendia
sobre a vida, uma armadilha:

a poesia arriscava-se
a vir, fragmentada, incógnita.
a sua efígie frágil ia
além dos rabiscos, riscos,

entrelinhas, entreveros,
instintos, instantes, íntimos,
em fuga. as folhas foram-se
(Como retornar à Atlântida?)

acumulando, alvas, ( pontes
para outro desassossego )
soltas, revoltas, fundidas
às tentativas vãs, quando

nada mais me interessava,
a não ser fazer um verso,
apenas um verso. insone,
atirei-me no vernáculo

à beira do catre, em busca
de algum resgate, a quimera
mágica: eis a tal palavra!
('Vou-me embora pra Pasárgada')







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