sábado, 31 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "Prece no Templo de Palas Atena" - Para André Vallias

"Prece no Templo de Palas Atena" - Para André Vallias



Do frio Norte, Bóreas, feroz vem.
Nótus, do extremo Sul, súbito, vem.
O Aquivo domestica o coração,
Pensando... Ponderar, muito convém?

Zéfiro zarpa rápido... A canção
Ouve-se, co' agudez, entre os rivais.
O Aquivo dilacera o coração,
Sentindo... De tudo os deuses se abstém!

Voraz, Eurus, do Leste, investe mais
Contra os vales, traz torpe tempestade.
O Aquivo desafia o coração,
Sonhando... Que louros levam além?


Aos poucos, o Cavalo Troia invade,

E fundem-se festa e fatalidade.




Adriano Nunes: "Ano Novo"

"Ano Novo"



Fulano
Sicrano
Poema
E música.
E não eram os trezentos de Esparta
Nem brincavam de cabra-cega às dez
Para dez, toda noite, com dragões,
Tigres dente-de-sabre, mil libélulas
Loucas. Não eram aquelas meninas
Paradas na esquina, depois das dez.
O intervalo de vácuos sobre o vácuo
Do coração. Não eram cento e onze
Detentos esmagados na ilusão
De ter ilusão. Fulano, Sicrano,
Poema e música. Não haveria
Tempo para haver tempo e frágeis sonhos.
Ai, todas essas páginas viradas!
Ai, todos esses sentidos não tidos!
E o buraco negro sugava a mágica
Quimera de um dia que vingará.
Não eram os exilados de Cuba
Nem o rapaz ante o tanque chinês.
Não eram as luzes de Paris, não
Eram palavras presas ao vernáculo,
O espetáculo de um circo estrangeiro.
O ano para todos, o instante raro
De paz e luz, de humanidade plena.
Não eram aqueles reis peregrinos,
Seguindo um disco-voador, a vida.
Não eram os carrascos de Nuremberg
Nem mesmo o vídeo de Kadafi
Diante da morte. Não poderia
A existência ser um simples anexo.
Fulano
Sicrano
Poema
E música.




Pablo Neruda: ""Canto General XV/II"

"Canto General XV/II" - Pablo Neruda


Amor, tal vez amor indeciso, inseguro:
sólo un golpe de madreselvas en la boca,
sólo unas trenzas cuyo movimiento subía
hacia mi soledad como una hoguera negra,
y lo demás: el río nocturno, las señales
del cielo, la fugaz primavera mojada,
la enloquecida frente solitaria, el deseo
levantando sus crueles tulipas en la noche,
Yo deshojé las constelaciones, hiriéndome,
afilando los dedos en el tacto de estrellas,
hilando hebra por hebra la contextura helada
de un castillo sin puertas,
oh estrellados amores
cuyo jazmín detiene su transparencia en vano,
oh nubes que en el día del amor desembocan
como un sollozo entre las hierbas hostiles,
desnuda soledad amarrada a una sombra,
a una herida adorada, a una luna indomable.
Y entonces dulce rostro, azucena quemada,
tú la que no dormiste con mi sueño, bravía,
medalla perseguida por una sombra, amada
sin nombre, hecha de toda la estructura
del polen,
De todo el viento ardiendo sobre estrellas
Impuras:
oh amor, desenredado jardín que se consume,
en ti se levantaron mis sueños y crecieron
como una levadura de panes tenebrosos.



Canto Geral XV/II
(Tradução de Adriano Nunes)


Amor, talvez amor indeciso, inseguro:
Somente um golpe de madressilvas na boca,
Somente umas tranças cujo mover-se subia
fez minha solidão como uma pira negra,
e tudo mais: o rio noturno, os vestígios
do firmamento, a fugaz primavera aguada,
a enlouquecida frente solitária, o desejo
levantando suas cruéis tulipas na noite.
Eu desfolhei todas constelações, ferindo-me,
Afiando os dígitos no tato de estrelas,
tecendo fio por fio a contextura fria
de um castelo sem portas,
oh estrelados amores
cujo jasmim detém sua transparência em vão,
oh nuvens que no dia do amor desembocam
como soluços entre as herbáceas hostis,
desnuda solidão amarrada a uma sombra,
a uma ferida adorada, a uma lua indômita.
Nomeia-me, disse talvez aos roseirais:
eles talvez, a sombra de confusa ambrosia,
cada tremor do mundo conhecia meus passos,
me esperava no canto mais oculto, a estátua
da árvore soberana na planície:
tudo na encruzilhada chegou a meu desvario
dissecando meu nome sobre a primavera.
E sendo assim, doce rosto, açucena queimada,
tu a que não dormiste com meu sono, bravia,
medalha perseguida por uma sombra, amada
sem nome, feita de toda a estrutura do pólen,
de todo o vento ardendo sobre estrelas impuras:
oh amor, desenredado jardim que se consome,
em ti se levantaram meus sonhos e cresceram
como uma levedura de tenebrosos pães.






In: NERUDA, Pablo. "Canto General". Mexico: Ediciones Oceano, 1954; Canto XV (Yo Soy); II; páginas 534/535.




quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Severo Sarduy: "Soneto Meridiano"

"SONETO MERIDIANO" - SEVERO SARDUY



La transparente luz del mediodía
filtraba por los bordes paralelos
de la ventana, y el contorno de los
frutos; o de tu piel — resplandecía.

El sopor de la siesta: lejanía
de la isla. En el cambiante cielo
crepuscular, o en el opaco velo
ante el rojo y naranja aparecía

otro fulgor, otro fulgor. Dormía
en una casa litoral y pobre:
en el aire las lámparas de cobre

trazaban lentas espirales sobre
el blanco mantel, sombra que urdía
el teorema de la otra geometría.




"Soneto Meridiano"
(Tradução/transcriação de Adriano Nunes)

A transparente luz do meio-dia
filtrava pelos paralelos bordos
das janelas, e o perímetro dos
frutos; ou de tua pele - luzia.

O torpor da sesta: o que distancia
da ilha. Nas permutáveis nuvens dos
crepúsculos, ou nos véus ocultados
ante o roxo e o laranja aparecia

outro fulgor, outro fulgor. Dormia
em uma casa litorânea e pobre:
e na atmosfera as lâmpadas de cobre

trançavam as lentas espirais sobre
a branca toalha, sombra que urdia
o teorema d'outra geometria.




In: SARDUY, Severo. Obra completa. Tomo I. Edición crítica. Gustavo Guerrero – François Wahl coordenadores. Madrid: ALLCA XX, 1999.





quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

José Gorostiza: "Panorama"

"Panorama" - José Gorostiza


EN LA esfera celeste de tus ojos
de noche.
La luna adentro, muerta,
en el gracioso número del naufrágio.
Después apenas una atmosfera delgada
tan azul
que el azul era distancia, solo distancia
entre tu pensamiento y tu mirada.

"Panorama"
(Tradução de Adriano Nunes)

E na esfera celeste de teus olhos
de noite.
A lua adentro, morta,
no gracioso número do naufrágio.
Depois apenas uma atmosfera delgada
tão azul
que o azul era distância, somente distância
entre teu pensamento e tua olhada.






In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madrid: ALLCA XX, 1997, p. 48.




Adriano Nunes: "Menelau"

"Menelau"



Esqueça tudo
O que você imagina e

Vire a página
Vire a página
Vire a página
Vire a página
Vire a página e

Aquela mágoa apague
Aquela mágoa apagu
Aquela mágoa apag
Aquela mágoa apa
Aquela mágoa ap
Aquela mágoa a
Aquela mágoa
Aquela mágo
Aquela mag
Aquela ma
Aquela m
Aquela
Aquel
Aque
Aqu
Aq
A




José Gorostiza: "Presencia y fuga I"

‎"Presencia y fuga I" - José Gorostiza



En el espacio insomne que separa
el fruto de la flor, el pensamiento
del acto en que germina su aislamiento,
una muerte de agujas me acapara.

Febril, abeja de la carne, avara,
algo estrangula en mí a cada momento.
Usa mi voz, se nutre de mi aliento,
impone muecas turbias a mi cara.

?Qué amor, no obstante, en su rigor acierta
a destruir este hálito enemigo
que a compás con mi pulso me desierta?

!Templado hielo, sí, glacial abrigo!
!Cuanto -para que dure en él- liberta
en mí, que ya no morirá conmigo!



"Presença e fuga I"
(Tradução/transcriação Adriano Nunes)

E nesse espaço insone que separa
o fruto duma flor, o pensamento
Do ato em que germina seu afastamento,
Uma morte de agulhas me captura.

Febril, abelha da carne, segura,
Algo estrangula em mim, por um momento.
Usa minha voz , se apraz de meu alento,
Impõe faces turvas à minha cara.

Que amor, contudo, em seu rigor acerta
a destruir este hálito inimigo
que em passo com meu pulso me deserta?

Rijo gelo, sim, glacial abrigo!
Quanto -pra que dure nele- liberta
em mim, que já não morrerá comigo!





In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madrid: ALLCA XX, 1997, p. 55.



Adriano Nunes: "O elo aparente"

"O elo aparente"


Espreita a ampulheta
O coração, sempre
Que pode, sem pre-
Ver o que decreta

O tempo. ( A escopeta
Que dispara sempre,
Sem falhas, sem pre-
Sumir nada e acerta:

O tempo) Somente
De sonhos se enfeita a
Lida, persistente-

Mente e assim estreita
O elo aparente,
A linha desfeita.



terça-feira, 27 de dezembro de 2011

José Gorostiza: "Caminos"

"Caminos" - José Gorostiza


!Qué caminos azules
sobre tus ojos!
En el amanecer azules.
Con sol, más congelados
a la sombra de las pestañas,
azules.
De noche - !oh tus ojos míos
despiertos como números de fósforo
en un reloj sombrío!



"Caminhos"
(tradução de Adriano Nunes)

Que caminhos azuis
sobre teus olhos!
Em um amanhecer azuis.
Com sol, mais congelados
sob a proteção das pestanas,
azuis.
De noite - oh teus os meus olhos
despertos como números de fósforo
num sombrio relógio!




In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madrid: ALLCA XX, 1997, p. 49.






sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "A ideia, o pensar!" - Para Leo Cavalcanti

"A ideia, o pensar!"  - Para Leo Cavalcanti


É ela! É ela!
Além da vidraça
Que, aos poucos, embaça,
Além da janela
Que o alcance esfacela,
Fragmentos ao ar!

É ela! É ela! -
Todo o cosmo a acusa.
Ó múltipla Musa,
Que em magno infinito
Finca-se, tal mito,
Adentro, no olhar!

É ela! É ela!
A louca libélula
Que a lida especula,
A ululante luz
Que o mundo traduz:
A ideia, o pensar!




Ezra Pound: "Aria"

"Aria" - Ezra Pound



My love is a deep flame
that hides beneath the waters.

- My love is gay and kind,
My love is hard to find
as the flame beneath the waters.

The fingers of the wind
meet hers

With a frail
swift
greeting.

My love is gay
and kind
and hard
of meeting,

As the flame beneath the waters
hard of meeting.

"Ária"
(Tradução/Transcriação Adriano Nunes)


Meu bem é densa chama
Que se esconde sob as águas.

- Meu bem é alegre e grácil
Meu bem achar né fácil
Tal a chama sob as águas.

Os dígitos do vento
lhe acenam

Com um frágil
rápido a-
cenar.

Meu bem é grácil
e alegre
não fácil
de achar,

Tal a chama sob as águas
Por achar.




In: POUND, Ezra. "Canzoni". London: Elkin Mathews, Vigo Street, 1911/US.Archive.Org.







Adriano Nunes: "O verso" - Para a minha amada mãe

"O verso" - Para a minha amada mãe



Muitas vezes,
Debruçado sobre o catre,

Não sei se pela pressão
Entre os dois
Corpos - vivo e vegetal -
Ou por pura percepção,

Eu ouço o meu coração
Batendo, ter que bater.

De repente,
Um estranhíssimo susto
Investe contra a estrutura
Do meu ser.

Com medo, súbito, afasto-me
- Bobagens em minha mente? -

E dou-me ao pensar:  preciso
Ter-
Minar o ver-
So.





Adriano Nunes: A poesia"

"A Poesia"


Nas savanas secretas
Da minha mente,
Brincam de cabra-cega
Dragões, tigres dente-de-sabre, rêmoras,
Princesas e
Loucas libélulas,

Bandeira, Brossa, Baudelaire,
De repente.

A poesia é
Perigosamente
Pra sempre.




quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

José Gorostiza: "La casa del silencio"

"La casa del silencio" - José Gorostiza



La casa del silencio
se yergue en un rincón de la montaña,
con el capuz de tejas carcomido.
Y parece tan dócil
que apenas se conmueve con el ruido
de algún árbol cercano, donde sueña
el amoroso cónclave de un nido.

Tal vez nadie la habita
ni la quiere,
Y acaso nunca la vivieron hombres;
pero su lento corazón palpita
con un profundo latir de resignado,
cuando el rumor la hiere
y la sangra del trémulo costado.

Imagino, en la casa del silencio,
un patio luminoso, decorado
por la hierba que roe las canales
y un muro despintado
al caer de las lluvias torrenciales.

Y en las noches azules,
la pienso conturbada si adivina
un balbucir de luz en sus escaños,
y la oigo verter con un ruido
ya casi imperceptible, contenido,
su lloro paternal de tres mil años.




"A casa do silêncio"
(tradução de Adriano Nunes)


A casa do silêncio
ergue-se em um recanto da montanha,
com capuz de azulejos carcomido.
E parece tão dócil
que apenas se perturba com ruído
de alguma árvore próxima, onde sonha
o amoroso aconchego de um abrigo.

Talvez nada lá habita
nem mesmo quer,
e talvez nunca ali viveram homens;
mas o seu coração lento palpita
com profundo bater tão resignado,
quando o rumor a fer-
e a sangra do estremecido costado.

Imagino, na casa do silêncio,
um pátio luminoso, decorado
pelas ervas que roem as estruturas
e um muro sem pinturas
ao cair das chuvas torrenciais.

E nas noites azuis,
penso-a conturbada se pressagia
um murmúrio de luz em sua entranha,
e a escuto verter com ruído
já quase imperceptível, reprimido,
seu pranto paternal de três mil anos.





In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madrid: ALLCA XX, 1997, p. 12.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

José Gorostiza: "Pausas I"

"Pausas I" - José Gorostiza


¡El mar! ¡El mar!
Dentro de mí lo siento.
Ya sólo de pensar
en él, tan mío
tiene un sabor de sal mi pensamiento.


"Pausas I" - Tradução Adriano Nunes

O mar! O mar!
Sinto-o de mim adentro.
E apenas por pensar
No mar, tão meu
Tem um sabor de sal meu pensamento.



Esse poema foi escrito em 1925. Traduzi-o do livro "Poesía y Poética". Madrid/Espanha: ALLCA XX, 1997, p. 18.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "Cedente: o amor bem sabe a que veio"

"Cedente: o amor bem sabe a que veio"


Estou-te querendo, sem receio,
Dessa vez. Eu sei, é para sempre.
Dessa vez, eu sei, será sem pre-
Cedente: o amor bem sabe a que veio.

Estou-te dizendo, sem bloqueio...
És um instante raro, sem pre-
Tender aos instáveis clichês, sempre.
Com tal fulgor, agora alardeio

O que o meu coração, satisfeito,
Tem clamado, pleno, indiferente
Às dúvidas, ó verso, tem feito

Por ti, batendo em furor, urgente.
Dessa vez, eu sinto, não tem jeito:
Sou mesmo sincero, confidente.

Adriano Nunes: "dos instantes, do faz-de-conta"

"dos instantes, do faz-de-conta"




uma sinapse vem à tona...
a qualquer momento esse amor
salta à vista, devastador,
preciso, vinga e impressiona

por sua força, seu clamor.
tal maravilhosa amazona
que os inimigos espiona,
que às feridas sabe se impor,

insólito amor amedronta,
por instinto. ameaçador
dos instantes, do faz-de-conta,

às vezes, finge-se indispor
com a vida e a sonhos remonta.
às vezes, é pétreo opressor.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "do propósito"

"do propósito"



os meus olhos
- projetores
do propósito -
estão soltos...

sem ter rotas,
pelas tocas,
pelas docas.
sem um dono,

querem olhos,
outros olhos,
querem todos,
querem cosmos.

os meus olhos
- promotores
de alguns sonhos -
estão prontos

para os tombos,
pra o abandono,
pra tal óbvio,
para o amor.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "o amor"

‎"o amor"


às vezes, desafio o

infinito...

o amor não pode ser só
isso que violentamente vem

se repetindo:
frágil,
fútil,
fácil,
fixo.

Adriano Nunes: "as frestas do inesperado"

"as frestas do inesperado"



estás triste.
dás-te por vencido.
todos aqueles sonhos já não te assustam.
todas aquelas fugas já não te embaraçam.
a madrugada cai tal desmoronamento -
alguma favela em tua alma grita,
reclama socorro -
arrastando tudo, levando o
alicerce de um sorriso qualquer.
não há vestígios do porvir.
não há restos de esperanças.
não se veem os fósseis das boas-novas.
as frestas do inesperado
não te permitem ver onde
se esconde o instante raro,
aquela alegria aguda, tátil.

entregas-te aos dragões
das medievais alcovas íntimas
do teu coração.
não sabes que rumo pode haver
para o último lance.
onde se infiltrou o infinito?
com que silêncio de silício
é possível não ser quem te sentes?
estás triste e
a paisagem não pesa mais.
a escrivaninha se desespera
à-toa. os cadernos
se ferem. dás-te ao tédio, tentando
escapar, à socapa, dos tentáculos
desse desassossego-clichê.
todas aquelas festas já não te forjam.

todos aqueles socos já não te desenham.
és talvez um tímido espectro
sem receio de ser um
tímido espectro
de alguma intempérie corrosiva.
que queres - que podes
querer a essa altura
em que a roleta-russa falha,
em tua tentativa de existência,
em que a solidão é
a cocote única,
disponível, para a valsa das lágrimas?
dás-te por vencido...
estás triste
e isso não
mais trucida o universo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "era apenas um labirinto"

"era apenas um labirinto"



madrugada...
a existência de tudo me capta.
o rompante se desfez: agora
só há o instigante vestígio
da tua tez. mero instante.

às vezes desafio o infinito
e assim sem receio ou
medo - esqueçamos o íntimo -
sinto-te:

o teu corpo, por sorte,
era apenas um labirinto.





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "mergulho em águas rasas seguido de trauma"

"mergulho em águas rasas seguido de trauma"



o meu coração é violentamente frágil.
decido ir à rua. (há um mover de mundos
envolto dos meus
medos)
ai, essa alegre fonte
de existir!
agarro-me às laringes
do dia.

tudo se fez...
talvez última grande aposta.
é que ando sem vontade de arriscar de novo,
dar o braço a torcer, mergulhar
de cabeça,
nas águas rasas e bem geladas do amor.
(enfrentar outro jogo,

todo o infinito feito
desafio?)
retorno do passeio,
confuso.
que mais
deve haver

lá fora, além da ilusão
do tempo,
de haver lá fora a atlântida inteira,
intacta?
a vida

esvai-se, através das vidraças, desgastada
do tudo-nada.
o verso...
repouso,

em silêncio.
volto à sala.
o sonho voa, pássaro

rebelde. o meu coração é
violentamente táctil.


ó labirinto de solidão!







domingo, 11 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "esse poema" - Para Romério Rômulo Campos Valadares

"esse poema" - Para Romério Rômulo Campos Valadares




não consigo me livrar desse poema
ele me assombra
feito fantasma
nos porões da minha consciência
retorna dos rascunhos
- testa-de-ferro dos rabiscos -
salta à vista
do fundo da lixeira (quase
não dou por isso)

agita-se no escuro das gavetas
da escrivaninha
quer vir à tona
de qualquer jeito
sem ritmo
sem métrica
sentido ou
assunto (a esmo
ele não quer ter autor)




Adriano Nunes: "instante raro" - Para Tiago Asle Pires Corrêa

"instante raro" - Para Tiago Asle Pires Corrêa



conquistar o
começo caro.

descobrir a
luz, tê-la em mira.

refazer a
frágil esfera

do ser, dar a
vida, de cara,

ao acaso, claro.
construir o

que tanto admiro.
reverter o

que reverbero.
e cantar o

instante raro.






sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "o lance da poesia"

‎"o lance da poesia"




essa quimera palpável,
esse recanto sombrio,
essa descida precisa,
às pressas, às tais crateras
da satisfação, as sobras
desses vínculos , que são?

esse instante inatingível,
essa fresta na fronteira
do olvido, esse filme-fim,
essa vírgula perdida,
à-toa, na imensidão,
esse conchavo, que são?

e mais além e pra sempre...
é verdade sim: mentimos
de acordo com nossa carne,
esse acúmulo de sonhos,
esse tumulto de tédios,
esse eclipse de sinapses,

e o que foi e ainda mais...
porque pesávamos tempos,
não tínhamos sequer Ítaca
pra regressar, nem saídas
desses labirintos íntimos,
vivíamos a exceção:

o amor-mor, desafiando
o infinito de uma folha
em branco, essa trajetória
do existir, a alegre fonte
mágica, essa descoberta:
o lance da poesia.












quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "epílogo"

"epílogo"




desafiar o infinito:
despir-se
do íntimo, imergir
no âmago do labirinto
do olvido,
não decifrar sequer isso,
cortar todos os fios,
atirar-se às garras da esfinge,
ficar à espera do touro de minos,

sentir.





sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "Peri" - Para Nelson Ascher

"Peri" - Para Nelson Ascher


Sem anteparo,
Gaiola ou galho,
Peri, protótipo
De pterodáctilo,
Passa ao assoalho,


(Dragão chinês
Sempre indomável)
Agora, rápido,
Penas, voo, olhos,
Pouso. Infinito,

O seu perímetro
É o próprio espaço
Imaginário,
Bico por bico,
Instante, instinto.