sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Adriano Nunes: "Ofício" - Para Lêdo Ivo.

"Ofício" - Para Lêdo Ivo.



Teço versos
Como quem de um segundo a mais de vida precisa,
Como quem um grito de socorro quer dar,
- Onde fica enfim a saída de emergência? -
Como quem nunca soube fazer outra coisa
Senão inventar coisas,
Cosmos,
Sonhos,
Labirintos, fios, Cretas, grutas.
Esperanças,

Espectros,Gretas,
Grades,
Grécias...
E, tudo em tudo, em volta de voos e mergulhos,
Para que se esvaísse o olvido, pouco a pouco.

Em um grã mar de olvidos.

Teço versos
Como quem já não tem silêncios pra guardar,
Como quem  esquecera o ser que fora, o ritmo
De um tempo amado ante as feras do impossível.
Ai, permaneço preso às ditas do meu peito!
Que faço com o que não faço, pra que o instante
Mágico aconteça aqui, moldando o poema,
Dando-lhe o matiz que o seu corpo sempre quis,
Sem a interferência violenta do meu gosto?
- Onde afinal fica a fresta que a tudo leva
Pra a felicidade, mesmo aquela sonhada? -

Como quem não pode dar outro passo à frente,
Por correr o perigo de precipitar-se 
No báratro mais íntimo, escrevo versos.
E o dia por vir,
Pra mim,
É todo o infinito.


4 comentários:

  1. Muito bom mesmo! Uma irregularidade métrica que o torna forte!
    Beijo

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  2. Ana,


    Muito obrigado por sua avaliação! Sempre a ponho em meu coração!

    Abraço fraterno,
    A. Nunes.

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  3. Caro Adriano Nunes,

    Neste ofício "infinito" aqui lhe deixo mais alguns ossos (versos) do ofício:

    Ofício do verão -
    a sede abrasa o canto
    insurrecto da cigarra

    Domingos da Mota

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  4. Caro Domingos da Mota,


    Obrigado pela sua visita e comentário. Adorei o poema!


    Abração,
    Adriano Nunes.

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