quinta-feira, 31 de março de 2016

Adriano Nunes: "Entrelinhas"

"Entrelinhas"


Não, eu não sou mesmo triste.
Talvez sejam só as fotos
Que me ver assim permitem.
Não, eu não sou algo lógico,
Regido por dedo em riste.
Opto pelo já gasto óbvio
Quando é útil pelo óbvio
Optar. Por que não lhes disse
Sobre o amor, em verso heroico?
Não, eu sequer me importo
Em dar pérolas aos porcos.
Quem define o que é crise?
Quem define o que é livre?
Sentir-me é aceso fósforo.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Adriano Nunes: "Todavia"

"Todavia"


Tudo me afeta.
Até o fato de estar
Dentro do tudo
Que me afeta,
De saber-me parte,
Até o fato de estar
Além do fato de
Que tudo me afeta
Enquanto tudo.
Trampolim e mergulho.

Depois eu sei
Que há um beco escuro
Para seguir e
Umas pedras para
Carregar nas costas.
São só pedras carregadas
Nas costas, quase lei.
E um beco escuro
Que dizem ser
Mesmo o mundo.

Adriano Nunes: "O capital"

"O capital"


Trabalhador
Trabalhadoa
Trabalhadam
Trabalhaama
Trabalhamai
Trabalamais
Trabaamais-
Trabamais-v
Traamais-va
Tramais-val
Tamais-vali
Amais-valia

domingo, 13 de março de 2016

Adriano Nunes: "À risca"

"À risca"

Da vida,
Cumpri
A lei
Do amor,
À risca.
Amei
O erro
E o acerto,
Do jeito
Que era
Pra ser.
Até
Chegar
Aqui,
Sem medo.
As guerras
Que sempre
Travei
Comigo
Levaram-me
A isso:
Sou múltiplo
De mim,
Não íntimo.
À parte,
A carne
Que vale,
A alma
Que vaga,
Às tardes.
Saudade?
Só sinto
Daquele
Abraço
Que só
O ritmo
Dar sabe.
E dos
Audazes
Olhares
Da métrica
Que faz
Com que
Prazer
E dor,
Sem pressa,
Engendrem
Nós dois:
Poema e
Poeta.

sábado, 12 de março de 2016

Adriano Nunes: "Oru" - Para Oru am Sudá

"Oru" - Para Oru am Sudá


Ouro
Ou
O
Olho
De
Hórus
Ou
De
Oru
Os
Ósculos
Ou
Outro
Mar
Que
Vem
De
Mauro,
Neste
Quântico a-
Braço,
Quase
Quadro.
Tintas
E
Metros
Por
Todos
Os
Lados.

Adriano Nunes: "Manhã"

"Manhã"


Manhã.
Tudo começa.
Tudo tem pressa
De ser só tudo
Enquanto tudo
Começa. Nem
Mesmo o que vem
Sabe por que
Tudo começa.
Nem a cabeça
A girar, tendo
Que procurar
Algum portento
Sabe. Mas o
Fogoso sol
Move-se, a tempo
De anunciar
Que o amanhã já
Está nascendo.
Tudo de novo.
Tudo no jogo
Do acaso. Outro
Dia, até sem
Pronto ficar,
Entrega a tez
De um sonho além

Pra mim, pra todos.
Tudo talvez
Mude. De vez.
Língua ou lugar.
Manhã.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Adriano Nunes: "Outros escombros"

"Outros escombros"


Fala-me a lei
Do amor que eu,
Cego, falhei.
Calou-me Urânia
Pra que escutasse
A voz suave
Da grã Calíope.
Deu no que deu.
E, quão doeu,
Fundo, na entranha
Do que é possível.
Mas não só isso!
E com Terpsícore
Dancei, dancei!
Metros e marcas
De selo d'água
Pra cada mágoa e...
Pisei no pé
Quebrado da
Pobre Polímnia!
E agora, e agora?
Resta de mim
Um quase corpo,
Sem fim ou forma.
Sem nume ou nome,
Métrica mínima.
Dá-me, Melpômene,
Máscaras outras!
A voz já rouca.
A pele, toda
Já mesmo solta
Da carne, pouco
A pouco, cede
Ao tato. Enfim,
Quase nem alma
Resta, só a
Parte que soa,
A repetir
Que só sou o
Que me povoa.
Que faço, Euterpe?
Este menino
Triste e ferido
Por infinitos,
A ti não serve?
Não resta nada.
Perdão, ó Tália!
Vejo que vou
Baixar a guarda
Para ver se a
Chance me afaga
Sem farpas. Basta
Saber da dor
Que me engendrou
Enquanto tudo
Era esperança
Em um futuro
Que sequer chega
- Nem à cabeça! -
E ao caos me lança.
Ah, por um fio
Tanto ficou,
Para quê, Clio?
Não resta mesmo
Matéria alguma.
Somente o rápido
Instante de
Sonhar, de novo,
Com tua lira,
Deixa-me, Erato,
Ter outra vez.
Alegre gozo
Sem fim que verte
A vida em elos
De acertos e
Erros, desejos,
Pathos & Ethos.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Adriano Nunes: "Quântico norte"

"Quântico norte"

Antes da boca abraçar
O teu beijo, havia outra
Coisa para te dizer,
Alada palavra louca,
Dessas que não dá
Pra deixar atada
Ao cosmo da boca.
Antes do olhar se enroscar
Em teu olhar, lá o mar
Alto, a vida estava solta,
Todo o medo estava pronto
Pra zarpar, pra ver
No que é que a vez dá.
Ah, como te conto?
Depois o que mais
Seria preciso?
Tato, texto, tempo, tino?
E a mão a riscar
O ritmo mais claro e forte...
Em mim, entre rima e risco,
O amor, o quântico norte.

terça-feira, 8 de março de 2016

Adriano Nunes: "8 de março"

"8 de março"



MULHER
MULHEM
MULHME
MULMEL
MUMELH
MMELHO
MELHOR

quinta-feira, 3 de março de 2016

Adriano Nunes: "Bozz" - Para Roberto Bozzetti

"Bozz" - Para Roberto Bozzetti

E entre
A ala
Que advém
Da fala
E o elo
Que vem
Do zelo
Ao verso,
À firma
Irônica
A pôr
O mundo
À prova,
O que
Se com -
e - mora:
Ao dia
Que este
É, ao
Grand Chef
Do Brejo,
Reduto
De ébrios
Instantes,
Ao léu,
Rompantes,
Ou, antes,
Decerto,
De sérios
Estudos,
É mesmo
O dia
Que é
Tão seu.
Deu no
Que deu:
Ah, como
Se funda um
Poema em
Apuros?

Adriano Nunes: "Como pode"

"Como pode"

Chove tanto,
Quase canto.
Chove muito,
Que dá susto,
Que dá medo.
Chove mesmo.
Chove forte
Como pode.
Aqui, vínculo
Do infinito,
Meu amor,
O que sou
Só, com riscos
Divertidos
- Tara e tino -
Ri, comigo.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Adriano Nunes: "Eu, Teseu"

"Eu, Teseu"


Estou prestes
A entrar no
Labirinto
Do rei Minos.
Por mim torcem
Todos os
Meus mais íntimos.
Sim, cansado
Da viagem,
Do mar alto,
Tenso, sigo.
Sei dos riscos,
Sei do Touro
Assassino.
É meu fado
Encontrá-lo.
Temo o erro.
Temo mesmo
Frente a frente
Com o monstro
Ficar, posto
Que, até outros,
Como eu,
Nada ou pouco
Conseguiram.
Há um fio
De ilusão
A ligar-me
À saída.
Medo tenho
De ser todo
Como o Touro.
E, sem fim,
Sem um meio,
Para sempre
Ficar preso
Ao que não
Sei direito,
Ao que em mim
É qual mar,
Naus, desejo.

Adriano Nunes: "Ode a Adriano Espínola"

"Ode a Adriano Espínola"

Costume bom esse
De alegre tecer,
Sem um interesse,
A não ser o ato,
O próprio fazer,
Versos pra poeta
Amigo, pra o amigo
Poeta, de há
Muito transmitido,
De geração a
Geração, com arte,
Colhidos crisântemos
Do tempo que desde
Homero vem tendo
Mundos. Mais que risco,
Acredito. Sinto-o!
E jamais só isso.
O coração tão
Dado a rimas e a
Ritmos, todos íntimos,
Quando, ó vez, é fato
Mesmo incontestável,
É o aniversário
Do homenageado!

terça-feira, 1 de março de 2016

Adriano Nunes: "Sobre tudo"

"Sobre tudo"


Entra. Estou
Já jogando
Outro tipo
De xadrez.
Talvez possas
Vencer mesmo
Dessa vez.
Bem explico:
O que pensas
Sobre tudo
É que faz
Com que as
Peças saiam
Do lugar.
É tão súbito!
E o que sentes
Também faz
Tudo se
Mover e
Até mais!
É só isso.
Mas aviso:
O amor é
Lance péssimo.
Faz o rei
Andar de
Casa em casa,
Até que
Tonto caia.
Ah, partidas
Tantas, várias
Não ganhei!

Adriano Nunes: "Quase 54" - para Noemi Jaffe

"Quase 54" - para Noemi Jaffe

Quase 54,
Óculos quebrados,
Passagem perdida,
Celular furtado,
Tão esquecida
De si, da louca lida,
Entre antigas malas,
Cabeça batida
E um grande galo
Que não canta nada,
Mas salta à vista.
É o que dá
Amar demais a vida.

Adriano Nunes: "À disposição do olho"

"À disposição do olho"


Para mim, o porto
à disposição do
olho, o elo à beira
da ilusão, outro
momento solto,
gozo sem estorvo.
Não é que foi
para dizer que
a vida mesma
perfeita seja,
mas pra depois
não mesmo ter
que ficar roendo
as garras de todos
os pensamentos.
Por obséquio,
ó tambor elétrico,
que alvoroço
é esse que faz
com que quase
saias do corpo?
Achas pouco
ter que admitir
que estou amando
tanto, tanto,
a mando de ti?